Num qualquer momento deste ano, incapaz agora de precisar, propus-me substituir consumir por consumar.
Entretanto, nunca mais me lembrei… 
No entanto, o Universo, que tem memória de elefante, não me deixa mentir e tudo faz para que permaneça fiel aos meus propósitos.
Notei-o por causa do tempo.
O tempo de consumar é estendido. É o tempo da literatura, da intimidade, da emoção, do feminino. É decididamente um tempo Kairos. Absolutamente incompatível com o tempo de consumir, medido por Cronos.
Um tempo masculino, agressivo, duro, rígido, implacável.
O tempo que faz que desconhecidos berrem com outros desconhecidos por um lugar de estacionamento, num bairro supostamente chique da Capital. Sem sequer se questionarem sobre a sua atitude. De uma agressividade absolutamente desmedida e desnecessária, ainda mais para um domingo à hora de almoço.
Nomeadamente, quanto ao facto de não ser óbvio que queria estacionar na Av. da Igreja, quando tinha exatamente o mesmo lugar, num sítio proibido e imediatamente antes de uma passadeira, na rua onde estava e de onde queria sair. Mesmo berrando, gesticulando e dando-se ao trabalho de sair do carro, imagino que para me bater, para dizer que estava a fazer sinal. Não se dando conta, outra vez, que esse mesmo sinal tanto poderia ser para indicar que ia estacionar no lugar onde estava, quanto para o fazer num sítio nada lógico -, onde acabou por estacionar, não sem antes me buzinar violentamente -, tendo em conta que era muito mais fácil fazê-lo na rua onde já estava.
Não estivesse eu com a minha mãe e teria saído do carro disparada, aos berros, para lhe dizer que não era óbvio o que queria fazer. E para partir para cima dele a ver se se acalmava. Ou se teria coragem sequer de me levantar a mão. Era da maneira que ia preso e lhe passava logo o nervoso.
Tive mesmo pena…
Mas não quero ser essa pessoa… E foi precisamente nesse momento que me dei conta de que nem morta volto a morar em Lisboa. Sequer a conduzir, a não ser na falta de melhor hipótese. Mesmo trabalhando na cidade e tendo de encarar uma hora de transportes ferroviários para cá, outra para lá.
E que o meu equilíbrio masculino x feminino está muito mais afinado e alinhado do que alguma vez imaginei.