A meio do caminho, e já com coisas para deitar fora programadas até ao dia 22, posso dizer que o desafio me tem trazido mais liberdade do que ansiedade.
Quando falei nele a algumas pessoas, responderam-me que iria ficar sem nada.
Ledo engano. As pessoas menosprezam a nossa imensa capacidade para acumular coisas de que não precisamos, não nos fazem falta, das quais nem nos apercebemos. Pelo menos conscientemente.
Nunca fui acumuladora. ![](https://www.isabelduartesoares.com/wp-content/uploads/2021/09/ebtg.jpg)
Pelo contrário, sou muito mais desapegada. Tanto que não me resta assim tanta coisa da qual me desfazer. O que aconteceu logo nos primeiros dias. Muito porque me desfaço de coisas com alguma facilidade e relativa regularidade.
Ainda assim. É muito o que acumulamos.
Em gavetas que não abrimos, armários que não visitamos, prateleiras às quais não chegamos.
Na falta de coisas, revemos depósitos antigos, resquícios de memórias esquecidas em objetos empoeirados e amarelecidos. E encontramos muita coisa à qual nos apegámos por motivos vários, porque foi cara, porque nela fomos felizes, por termos esperança de com elas voltarmos a contar.
O desafio dá o empurrão de que precisamos para delas nos livrar.
A meio do caminho, decidida a avançar, voltei a ouvir CDs antigos, no único sítio onde ainda consigo fazê-lo: o carro. E, mesmo tendo uma entrada USB onde posso ligar uma pen com zilhares de bytes de música, dei por mim a adorar ouvir os EBTG sem interrupções. De vozes ou dos meus dedos, a quererem andar com as músicas para a frente. Sem controlar o processo, só a desfrutar do mesmo.
Para o dia 30, guardei tudo o que posso vender.
As coisas materiais, por ocuparem espaço, são mais óbvias de identificar. No entanto, o desafio aqui é outro. Não só o de libertar espaço físico, mas, e acima de tudo, espaço emocional.
Para os dias 25 a 28, tenho reservada a tarefa de re-visitar emails que acumulei, no caso de ter de um dia me defender. Com o intuito de os mandar todos fora, sem medos.
Não preciso de provas materiais para me defender de ataques emocionais.
Se não aprendi à primeira nem à segunda, talvez precise de uma terceira. E não é o acumulo de emails que me vai safar. Por outro lado, se deles me libertar, pode ser que me livre também da emoção que me fez a eles apegar. Essa parte de mim que sente necessidade de se defender e proteger de ameaças, tantas vezes imaginárias, fantasistas, ilusórias.
O apego a uma parte de mim que se calhar já nem existe, porque entretanto cresceu e já não precisa de recorrer ao material para justificar o emocional. Sedimentando a sabedoria intuitiva e instintiva que, quando somos novos, precisa do racional para se validar.
A meio do caminho, temos de voltar ao passado para poder aguentar o presente avançar em direção ao futuro.