
Há amigos pra copos, pra discutir a metafísica, para resolver os problemas da civilização ocidental, pra falar de assuntos comuns aos intervenientes, pra sair pra fazer desporto… E há amigos, e são muito, mas mesmo muito poucos, com quem podemos falar do que nos apetecer, nomeadamente o mais difícil, as nossas fragilidades. Gente que goste verdadeiramente de nós, acima de tudo, independentemente do que nos une (identificação ou compensação), gente bem formada o suficiente que não só não vai andar a divulgar as nossas fragilidades por aí, como não se aproveita delas para se tornar mais forte, ou para fugir de si mesmo… Reconhecer quem dos nossos círculos é capaz de simplesmente nos acolher, nos abraçar, nos olhar com empatia, sem querer resolver o nosso problema, sem querer viver através de nós…, contribui certamente para uma melhoria dos nossos relacionamentos.
Não se trata aqui de querer que o outro nos diga o que queremos ouvir, mas de acolhimento. No sentido em que entendemos empaticamente o outro, mas confiamos e acreditamos nele o suficiente, mesmo que ele não confie e não acredite, que é perfeitamente capaz de resolver o problema ou a questão que o atormenta.
Mudando a lente, cabe-nos a nós perceber os motivos escondidos que nos levam a comunicar da forma que comunicamos. Talvez o mais difícil seja isso mesmo, a forma mais ou menos honesta como o fazemos. E quando falamos de honestidade estamos longe da conotação que lhe foi atribuída, em que nos arrogamos o direito de ser umas bestas uns para os outros… A honestidade de que falamos aqui é emocional.
A nossa comunicação com os outros é feita de várias formas. Uma é o que dizemos, outra é a nossa linguagem corporal – que nos diz exatamente qual é a atitude do outro (e a nossa…) em relação ao que nos está a dizer e ao que está a ouvir – e a outra, e é aqui que mora o monstro, é o nosso inconsciente, que comunica o tempo todo com o do outro, sem que sequer nos demos conta.
Se inconscientemente nos pomos numa posição de inferioridade (ou superioridade, o complexo é exatamente o mesmo) a resposta do outro vai ao encontro do que estamos a comunicar inconscientemente. O que normalmente dá um péssimo resultado…
Da mesma forma, quando o objetivo da comunicação é emocionalmente desonesto, no sentido em que queremos apenas manipular o outro, usá-lo, para servir apenas os nossos propósitos e as nossas neuroses, o inconsciente dele também percebe. E é aí que a resposta sai ao lado do que queremos ouvir, frustrando os nossos objetivos e provocando uma reação muitas vezes intempestiva da nossa parte. É aí que sabemos que acertámos na mosca…
Começo a ficar fascinado com estas interpretações do quotidiano. :)
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