Adoro o campo

09/08/2023

As árvores e as flores. Jarros e perpétuos amores… Cantava o Rui Reininho. Já os Talking Heads tiveram alguma dificuldade em adaptar-se à vida no campo, só com árvores e flores.

Mais cedo do que tarde, todos iremos perceber que luxo é ir buscar ovos ao galinheiro para o pequeno-almoço, tomates à horta para a salada do almoço, figos para o lanche e batatas para o jantar.

É assim a vida no campo, onde nunca falta o que fazer.

Toda a gente se conhece e reconhece. Se cumprimenta. Pelo nome, pela cara, pela casa, cuja porta fica aberta. Toda a gente sabe da vida de toda a gente, o que pode parecer estranho. No entanto, ninguém parece estranhar que milhões de pessoas no mundo inteiro partilhem tudo quanto fazem com gente que nunca viram.

A vantagem do campo é não serem estranhos.

Estarem lá para o que for preciso, ao contrário dos estranhos da Internet. Onde o ritmo é biológico, o contacto real, as necessidades verdadeiras, e não artificialmente criadas, e a vida simples, à qual o David Byrne não conseguiu adaptar-se.   

E as coisas sabem às coisas que lhes estão na base.

E não a nada, como o que se compra em supermercados, insuflado e polido, para parecer bonito e durar mais tempo.

Por outro lado, nem o David Byrne nem ninguém precisa de preocupar-se com o desaparecimento da tecnologia, infelizmente. Pelo contrário, precisa de preocupar-se sim, com o desaparecimento dos solos férteis e produtivos. Substituídos por painéis solares de duração limitada em relação aos quais ninguém pensa o que lhes fazer, quando deixarem de funcionar. Ou queimados em incêndios, causados por fogo posto. Inutilizados por falta de gado que os paste ou de produtores de cujo cultivo usufruam.

Prevalecendo a comida feita em laboratório…

No campo, as casas são de pedra e as janelas pequenas. O ar puro, a natureza é a perder de vista, o calor seco e as noites frescas. As estrelas visíveis, os barulhos inaudíveis e a conexão total.

Sabe-se que tempo vai fazer no dia seguinte, sem ser preciso olhar para um telefone. Os instintos estão aguçados e não anestesiados. A sabedoria é popular, mas não menos astuta ou inteligente. Insultaram-se as gentes do campo, como “ignorantes”, valorizando-se a ida para as cidades e o abandono dos campos.

Acabando-se com a subsistência e criando-se dependência.

Ao ponto de os alimentos que se retiram diretamente das árvores ou da terra serem mais caros do que os que se compram em supermercados, vindos sabe Deus de onde.

O ridículo a que se chegou…

Reconhecendo com humildade que qualquer pessoa que viva no e do campo sabe como não morrer de fome. Onde as pessoas se encontram ao fim do dia, para falar da vida e beber uma cerveja fresca. Voltando para os seus espaços, com vista sobre as árvores e o cantar das cigarras. Ao contrário dos citadinos universitários, que precisam de apps até para “conhecer” gente.

De resto, a natureza toma conta de si mesma, não precisa do homem para nada. Muito menos deste tipo de homens

You Might Also Like

error: Protected Content