Entretanto ocorreu-me que posso estar senil, por ter a leve sensação de que já aqui escrevi sobre o que é Literatura usando precisamente A Vida no Campo como exemplo. Por isso, vou fazê-lo outra vez.
O lugar de onde se escreve é honesto, autêntico, profundo.
Falando psicologuês, escrevemos a partir do Self, lugar de humildade, rendição e totalidade. E não de sombra, de ego, muito menos de persona, que é o que me parece ser o lugar de onde escreve a senhora da limpeza, salvo seja.
Por isso o tempo também é outro.
Não é um tempo justificado, como é o da persona, apressado, como o do ego, projetado, como o da sombra. É um tempo lento, de gestão e digestão. De contemplação, de elaboração. Sem relógios que contam segundos altíssimo, sem pressão.
Literatura também não é entretenimento
Entretenimento escreve-se de qualquer maneira, como o faz a senhora da limpeza, salvo seja. Ou pode até escrever-se bem, mas falta-lhe profundidade.
Literatura tem conteúdo, é afirmativa, faz pensar, maravilha, abana e comunica diretamente com aquele lugar onde é preciso chegar para a fazer.
Literatura é conexão profunda
A literatura conecta diretamente com um espaço psíquico que vai além do entendimento intelectual. Literatura é arte. Implica beleza poética, recursos estilísticos, a nobre arte de dizer sem dizer. De fazer ver, sentir e até viver. De espantar, ao ponto de a cada momento, darmos por nós a dizer: pqp. Que é o que me acontece com Clarice Lispector.
Literatura é isto, por exemplo: “Silêncio tão grande que o desespero tem pudor”.
E não é para qualquer um…
Literatura é coisa séria. Mexe com as entranhas, é o sangue derramado no papel. A vulnerabilidade à vista de todos. A exposição da existência. É um ato de coragem e de rendição ao mesmo tempo. Por isso me irritou tanto a mulher das limpezas. Não brinquemos com coisas sérias. E não me façam perder o meu tempo com nada menos do que literatura.
Ref.