Tenho andado entretida com o meu primeiro romance de ficção, que me tem dado um gozo imenso.
Já teve três títulos. Não estou contente com nenhum…
De resto, tudo sobre rodas.
Voltarei à antena assim que possível.
É uma coisa engraçada, a memória.
Há de haver um processo qualquer que nos faz esquecer determinadas vivências para que possamos sobreviver. E, de alguma forma, meio mancos, consigamos coxear para a frente.
Essas memórias são como brasinhas.
Que não pegam fogo à casa mas ainda não se extinguiram. Dançam umas com as outras em cantos recônditos da nossa cabeça. No entanto, basta um pequeno rastilho para que apareçam bem vívidas. E ocupem rapidamente o lugar da frente das nossas memórias, como se tivessem acontecido há cinco minutos.
Dizem que só os velhos vivem de memórias, que é o que lhes resta porque o futuro é ao minuto.
Há muitos seminovos que vivem de memórias. Outros que nem das memórias saíram. Lá permanecem, nos anos 80 e 90. 60 e 70…
E alguns que vivem de memórias do que não aconteceu, do que poderia ter sido, agarrando-se ao que foi, como medida preventiva da consciência. Para dar tempo ao inconsciente de processar o conteúdo simbólico dessa memória, agora com mais dados disponíveis.
No entanto, as memórias têm um tempo próprio. Ler Mais…
Enfia-lo na gaveta, ele não faz parte das tuas memórias recentes, daquelas que escolhes lembrar-te. Porque não adianta, porque não deu certo duas vezes. Eis se não quando, numa trip ao passado, partilhas com uma amiga os causos da tua vida, ou pelo menos os mais marcantes, e afirmas coisas que não querias, coisas das quais já não te lembravas, coisas de miúdinha idiota e esperançosa. E chegas a casa e vais procurar sarna pra te coçar, encontras, pedes confirmação, rezando para que não se confirme, para que te ignore, e a resposta chega-te pelo correio virtual, rápido que só ele, e dás por ti a perceber que o passado não ficou lá atrás, quando o teu coração dispara com o nominho que vem no remetente e cujo conteúdo era o que mais temias. Sim, sou eu… E ficas a tremer, minutos e minutos a tremer… Esqueces que passaram mais de dez anos, esqueces que tu não és a mesma, esqueces que o outro também não. Esqueces tudo, quando as mãos insistem em tremer e o coração insiste em querer saltar-te da caixa, arriscando-se a ficar a pular cá fora, em cima da mesa. Cheio de esperanças vãs, cheio de siricuticos de adolescente, cheio de nervoso. E tu sabes, sabes que não vale a pena, sabes que já deu e não volta a dar, sabes que não vai rolar, que nem sequer vai resolver, mas o coração continua a cantar e as mãos a tremer…
A esperança, às vezes, é o que nos f*de…