Closure

04/09/2020

No entanto, meu caro, é tão fácil cair, ceder à ilusão, querer tentar mais uma vez. Ignorando os corpos que entretanto se insuflaram, os cabelos que perderam a cor, que rareiam ou que desapareceram por completo, a vida que nos aconteceu. A nostalgia da vida não vivida é-nos quase insuportável. Só não o é mais do que a ausência de fecho, closure, como se diz em estrangeiro.

É importante o closure…

Por um lado, acaba com a ilusão, a esperança. Por outro, e como o próprio nome indica, põe um fim às coisas.

Talvez seja mais importante para as mulheres pôr um fim às coisas. Talvez porque para elas a esperança é maior, mais real, mais esperançosa, mais possível. Ao passo que para os homens é apenas mais uma oportunidade que deixam em pousio, para onde voltar quando a vontade aperta e a emoção, a distância, a vida que entretanto construíram, já os afastou do perigo da permanência.

Pelo menos nas suas cabeças…

Que se distraem rápido. Tão rápido e de forma tão eficaz que ignoram que o coração jamais esquece… E que a memória da alma é eterna.

As mulheres só avançam quando o que deixam para trás termina, nos seus corações, pelo menos. Por isso nos é importante o closure. Já os homens mantêm uma série de possibilidades em aberto, mesmo sabendo que não irão concretizá-las.

É uma tentação, meu caro, esse resgate de amores antigos.

A esperança de que o que não conhecem de nós seja amado e reconhecido. Ou que o amor antigo e inocente seja suficiente para aguentar o que se descobre entretanto. E não é menos verdade o que diz, que se cristalizam. No entanto, a preguiça de começar tudo de novo é mais forte… E a ideia, ah, a ideia, a esperança, a vontade de sentir tudo aquilo… É o diabo para ignorar… Mesmo sabendo que se não foi forte o suficiente da primeira vez dificilmente o será da segunda, da terceira, às vezes até da quarta.

A esperança reside no coração das mulheres. É preciso uma fé inabalável para insistir em pôr filhos no mundo.

Dizia-me uma amiga galesa um dia destes que havia certos tipos de filmes que tinha deixado de ver. Tem mais juízo do que eu, que, desde que li o seu texto, fiquei cheia de vontade de ver a série…

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