Fazer e ser parte de um processo dá perspetiva e afasta o medo. E eu gosto da possibilidade de sermos inteiros e parte, às vezes metade, de algo maior. Foi o que senti na aula de dança desta semana. A terceira sobre a origem dos tempos. Do nada do Cosmos à criação de tudo. Parece piração, mas é científico e poético ao mesmo tempo. Sim, é possível combinar ciência e arte e ninguém morrer no processo.
Na semana passada, contei aqui como não tinha gostado da sensação do nada, na mesma proporção em que, na aula anterior, me havia sentido criativa e com todo o meu potencial para explorar.
Esta semana, na terceira aula sobre o tema, a última etapa do processo, voltei a ver sentido no cosmos.
Coerência não é manter a mesma posição ad aeternum, isso é lateralidade. E uma pretensão do ego. Coerência é ser cíclico, como o cosmos, todas as formas de vida, as batidas do coração, o processo psíquico, de individuação. É não ser um sem o seu oposto.
De repente, a Jornada do Herói está em todo o lado, inclusive no Cosmos.
O Nuno perguntava-me se explicava o cosmos pela minha experiência ou se apenas repetíamos o fenómeno, como seres impotentes perante algo maior.
Os dois. Explico o cosmos à luz das minhas capacidades de entendimento, preciso disso para conseguir conviver com a possibilidade, e sou um produto da sua ordem, repetindo o seu movimento. Não como uma marionete, mas no sentido em que há uma sequência, um processo, um passo a passo para a ordem natural de todas das coisas.
O próprio Cosmos é uma Jornada do Herói
Tal como o processo psíquico. Foi a conclusão a que cheguei na aula passada.
Tudo começou com o nada, a morte, a introspeção, o processo inconsciente, com a correspondente concentração, acúmulo, de energia, o mesmo que acontece quando estamos parados fisicamente e o nosso inconsciente está a processar os conteúdos a trazer para a consciência. A energia para tal é muita, por isso falha na atividade externa. Depois, os conteúdos saem do buraco escuro e explodem na consciência, à semelhança do Big Bang, expandindo, disseminando potenciais. Para, no fim, os organizar, podendo dar-lhes o devido uso. Tal como aconteceu com o cosmos, organizado pela matéria negra, responsável pelos planetas e as estrelas, as galáxias e os sistemas solares.
Reflexão, explosão, expansão e organização…
A [minha] vida é um somatório disto.
É muito evidente a relação da nossa existência com as leis cósmicas que gerem o universo, a vida…
Para mim também. E fica muito clara a importância de permanecer na jornada. Ir até ao fim no processo. O tesouro, a recompensa, é inalienável.
É assim que também vejo as aulas de dança, que são uma unidade por si, mas que, no conjunto do mês, do ano, formam um todo maior. Como o é o processo psíquico.
Hoje dança-se a última aula de transcendência, é desta que vais experimentar?