Chegou devagarinho, começou de forma inocente, como acontece tantas vezes. Não me lembro o que despertou. Apenas do sorriso da lembrança. E, quando dei por mim, estava a ver o primeiro filme.
Que acabou cedo demais.
Saltei imediatamente para aquele desfile de vestidos a que chamaram segundo filme.
Com uma única sequência que tem o que dizer.
Ao passar para aquela tentativa falhada de ressuscitar uma série que estava morta e enterrada, e lhe acrescentei o documentário, percebi que não iria ficar por ali.
Talvez aguentasse só até à quarta temporada…
Só que não. Quando percebi, andava há dias sem fim numa maratona de Sex & the City. Para matar saudades e anestesiar o cérebro.
No entanto, em vez de me rir o tempo todo, dei por mim a chorar em alguns momentos.
Aí estava ela, a crise da meia-idade…
Aquela, espero que seja só uma, em que nos apercebemos que jamais teremos os objetos das nossas fantasias, chegaremos onde sonhámos alto chegar. Muito menos conquistaremos o mundo das ambições pessoais e dos feitos heroicos. Em que os sonhos voaram pela janela e só nos resta a realidade. Bem como as nossas próprias limitações.
Vi tudo, até ao fim.
Dizem ser datada, não concordo. O discman no pulso da Miranda, os outfits da Samantha, quem usa dois tons da mesma cor na mesma indumentária, por Deus… As torres gémeas, os telefones, os vestidos pretos em casamentos, sim, parece que foi há um século. E talvez não faça sentido para as miúdas de hoje. Não faço ideia se alguma coisa faz sentido para as miúdas de hoje… Mas, para mim, continua a fazer. As perguntas, as dúvidas, o que elas querem, os comportamentos… Tudo continua atual.
E refrescante. De um tempo em que podia falar-se livremente, sem ser-se cancelado.
Porque as pessoas lidavam com os seus próprios demónios da maneira que sabiam e podiam. E aguentavam as consequências.
E voltei ao início. A crise da meia-idade pode ter batido à porta e deixado lá o pé, mas ainda não estou pronta para deixá-la entrar. Não enquanto não souber o que fazer com ela…