Faz amanhã uma semana que desativei todas as minhas redes sociais, twitter, instagram e facebook.
O mundo anda um lugar muito pouco recomendável e as redes sociais infrequentáveis. Quando dei por mim a entrar na loucura coletiva, na esquizofrenia generalizada, ainda que numa tentativa de ser uma voz de lucidez, achei que o melhor que tinha a fazer era dar um tempo.
Antes de enlouquecer de vez.
As redes sociais não são representativas do mundo lá fora, são piores. E não sei o que mais me incomoda, se os tolinhos do pensamento positivo, se os meros observadores que se entretêm com a ausência de razão e filtro alheios, se os propagandistas do regime, se os adolescentes de mais de 40 anos que acham que têm de escolher um lado, seja ele qual for, normalmente o que fica bem na fotografia, se os raivosos.
Parece impossível, mas o mundo está infinitamente pior do que durante o Estado de Emergência.
Por um lado, não deixa de ser surpreendente que a primeira coisa que as pessoas fazem depois de ficarem enfiadas em casa 2 meses é sair à rua e partir tudo.
Por outro, é bastante óbvio: consequência de limites e restrições à liberdade forçados. Impostos.
Resta-me muito pouca esperança na humanidade, confesso.
A sombra coletiva já grassava, com o fim do desconfinamento, as redes tornaram-se um espaço de gritaria insuportável, da qual eu, consciente e inconscientemente, fiz parte.
Recuso-me a viver no medo, na paranóia, e a sombra não é, decididamente, o meu lugar.
O estado policial em que vivemos não me agrada, mesmo nada, custa-me imenso não poder gritar e espernear contra uma série de medidas dignas do pior dos ditadores. Mais ainda constatar que são aceites pela maioria, que ainda as acha boas, necessárias, fundamentais. E, não contente com isso, ainda policia a vida alheia e se acha no direito de vir incomodar-me no meu espaço, onde escrevo livremente, como sempre escrevi, com liçõezinhas de moral, de saúde pública, de tudo quanto há, com a agravante da condescendência, como se tivesse 5 anos de idade.
Perdi a paciência e a cabeça, algumas vezes. Até já andava de maxilares cerrados na rua.
O que também não se recomenda, principalmente quando não vale, de todo, a pena, o esforço, o latim, as pérolas…
Para grandes males…
Ao contrário do que imaginei, crises de abstinência, suores frios, recaídas, o que obtive foi uma paz imensa, ansiedade reduzida a quase zero. Um sossego indescritível, o melhor dos silêncios. E voltei, literalmente, a sonhar.
Muito de vez em quando, ainda vejo uns F a flutuar à minha frente. Mas nada que me faça voltar atrás nos meus propósitos.
Um mês de detox
Porque é o máximo que o Twitter me permite sem me acabar com a conta. É provável que a ative e a desative logo depois, só para ganhar mais um mês. As outras aguentam-se mais tempo. E se não fosse a vã esperança de alcançar mais público, acho que as apagava a todas de vez.
Tinha tirado há muito tempo as aplicações do facebook e do twitter do telefone, para não ter tentações. Mas descobri que lá chegava pelo browser, o que resultou no mesmo que nada.
O tempo que perco nas redes sociais sem fazer rigorosamente nada de útil é insano.
Tenho lido imenso. Outra coisa que melhora incomparavelmente é o sono. Resultado de redução drástica de tempo de ecrã. Faz milagres.
Este é o primeiro texto que escrevo e que não vou partilhar nos meus canais. Temia, e temo, que a visibilidade não seja tanta, mas paciência. Não há ilusão, muito menos dinheiro, que me faça vender a alma seja a quem ou ao que for. Ao contrário do que parece, nós existimos fora das redes, não dentro delas. Nelas, o que subsiste é ego, persona e sombra. Nenhuma me serve, em exclusividade, pelo menos.