Enquanto escrevemos livros, são nossos. Retratam as nossas dores, angústias, dúvidas existenciais. Bem como amores perdidos, sentimentos não correspondidos, silêncios pesados e perturbadores. Também os nossos demónios internos, as nossas alegrias, o que nos faz rir, chorar e, acima de tudo, o que nos liga aos outros. No entanto, não deixamos de ser nós connosco mesmos.
Quando os publicamos, passam a ser do mundo.
Por melhor que escrevamos, saibamos expressar-nos, dominemos a língua e as palavras em todos os seus sentidos, oficiais e emocionais, é impossível saber como serão interpretadas.
Menos ainda como vão chegar ao leitor.
A minha escrita é talvez demasiado pessoal, tem muita voz autoral, o que é claro e inequívoco em todos os livros que publiquei. Daí que me é sempre difícil imaginar de que forma toca nos outros, apesar de os temas serem arquetípicos e, por isso, comuns a toda a humanidade, porque universais.
Mais do que a história de um amor não correspondido, tenho tido um retorno surpreendente e inesperado em relação ao livro que escrevi sobre o luto: Até Sempre.
É sempre bom ouvir que escrevemos bem, naturalmente, mas, com toda a falta de modéstia que possa transparecer, isso eu já sei… Interessa-me mais o impacto que as minhas palavras têm nos outros. O que sentem, como sentem, se se identificam, se se comovem, se riem, se pensam e no que pensam.
Das coisas mais reconfortantes para um escritor, um artista em geral e um INFP em particular, que sempre se sentiu um alien no mundo, e, portanto, bastante isolado do resto do mesmo, é perceber que o que escrevemos encontra afinal eco em quem nos lê. Ouvir que, apesar da experiência muito pessoal de um processo de luto, o livro é universal.
Como me disse uma vez o meu amigo Rafa, se houver uma pessoa que se identifique, que entenda com a alma, o que criamos, a missão da criação está cumprida. E o meu lugar no mundo encontrado.
Até Sempre, mais do que qualquer outro, é a prova disso.
E é mais do que suficiente para continuar a escrever e a publicar.
Muito obrigada e Até Sempre.