
Os espíritos que gravitam à minha volta não têm rosto nem nome, mas sei que representam todos aqueles de quem me afastei, por iniciativa própria, reagindo a uma dinâmica doentia onde entrei sem me dar conta e onde não mais poderia permanecer. Consigo vê-los agora, como que a lembrarem-me que não posso mais fugir deles. São no mínimo uns dez, não são tão grandes assim, são pequeninos, até, mas a sua presença é suficiente para me obrigar a olhar para eles. Estou disposta a encará-los, coragem nunca me faltou, atrevi-me a percorrer um caminho sem volta e para chegar ao santo graal vou ter de fazer as pazes com eles, deixá-los entrar na minha cabeça e abraçá-los com o meu coração. Um de cada vez, com a consideração que me merecem, com o respeito que se impõe, com a inteligência emocional de saber que são todos meus, todos fazem parte de mim, com vontade de os receber de volta, fizeram-me falta, vocês.
Agora posso receber-vos, reconheço-vos finalmente como partes minhas, que precisei de pôr de lado para poder seguir em frente, percorrer o caminho que tracei para mim e chegar até aqui. Mas não há mais como fugir, não me ameaçam mais, preciso de vocês, inclusive, por agora vos ver com outros olhos, que vos atravessam o corpo não material e que chegam ao outro lado, o que esconde o diamante em bruto, que precisa de ser lapidado, para que as suas arestas não me cortem mais, para que vocês não me amputem ao ponto de me impedirem de voar, outra vez, para que não me prendam ao chão, para que me deixem levitar um bocadinho, para que permaneçam, ainda assim, alerta, não vá levitar demais.