Andamos uma vida inteira a correr atrás do que nos traga de volta aquela sensação de paz, conexão, totalidade, êxtase. De união com o cosmos e tudo quanto nos rodeia, pois a eles pertencemos. Por estarmos em completa consonância, acolhimento e aceitação, com todas as partes de nós.
Na verdade, nem pensamos nisso, quando atingimos o que os budistas chamam: Nirvana. Somos um só.
Há várias formas de ating-lo, cada um saberá das suas.
No entanto, a maioria não passa de penso rápido*. Por isso, nos viciamos…
O vício vem de um apaziguamento do ego. A totalidade implica mais do que isso. Uma conexão com o Self, a alma, que vem de dentro.
Autogerada pelo todo de nós, integrado.
No outro dia, a propósito de Barcelona, falávamos de arte, de visionários, de génios. São assim as conversas, e a psique feminina, como as cerejas. Perguntei se tinhas ido à Fundação Miró. Recebi de volta um: não acho piada alguma ao Miró…
O que me fascina, respondi-lhe, é o que vai naquela cabeça para se expressar assim. Como o Dali…
A minha cara mudou, bem como o meu tom de voz. Conexão pura.
E saber como funciona a cabeça das pessoas, o que as faz mostrarem-se assim ou assado, quem são de verdade, o que as motiva, qual a sua história, é algo que se mantém na minha vida desde, pelo menos, a adolescência.
Isso e ler. Bem mais cedo.
Aqui há tempos, descobri uns livros meus de criança, na arrecadação da casa de família, e até me vieram as lágrimas aos olhos.
Já que, aprender com histórias é conhecer com a alma.
Para jamais esquecer. Pois não importam os detalhes, mas a ideia.
Os livros têm sido sempre uma companhia, as histórias uma forma de entender as pessoas e as suas cabeças. Mesmo considerando que são personagens, baseadas em arquétipos.
A fonte de tudo.
Consolidado na escrita. Que também me tem acompanhado desde a adolescência. Umas vezes mais outras menos. Mas é, sem dúvida, um contributo para o meu equilíbrio.
Sabemos o que nos conecta de facto – que é nosso de verdade e não uma carência do ego, que se relaciona sempre com a nossa imagem pública – quando se mantém uma constante na nossa existência.
Talvez a grande maioria não conheça as suas. A aventura de uma vida…
E, quando somos suficientemente afortunados para que aconteça – a vida é feita de momentos, de pontos de não retorno – sabemos que é para tal que vivemos, para o divino em nós, ao seu serviço. O único que aceito como Senhor e Mestre. O êxtase absoluto:
O orgasmo existencial…
Em que, finalmente, tudo faz sentido…
*Há um capítulo sobre isto no Message in a Bottle, o meu melhor livro, de longe… A 8,99€, na versão impressa. E a 4,99€, na versão digital.
Barcelona com Gaudi a pagamento… Cada vez perco mais a confiança na humanidade. As sem-fim obras de Picasso… Onde termina a contribuição ao mundo e começa o ego?
Boa pergunta :) Não acrescentei no texto, mas, noutras obras, fascina-me a riqueza do detalhe, como Guernica ;)