Por mais que goste de aproveitar as férias para viajar, ver coisas diferentes, outras pessoas, e, de preferência, estar em contacto com a natureza, a rotina mata-me aos poucos, preciso da novidade para viver, não sinto essa necessidade que os extrovertidos manifestam de estar em permanente movimento. Muito menos me identifico com o: “ter de fazer alguma coisa”. Para poder ter o que contar aos outros ou publicar em redes sociais, imagino…
Às vezes, só preciso de férias do mundo.
De dias em que continuo a acordar cedo e, sem a pressão do mundo externo, do tempo cronológico, me dedico ao meu mundo. Devagar, sem deixar que os afazeres mundanos me perturbem a paz, que encontro no que leio.
Alterno entre o que poderiam chamar-se livros técnicos, mas não demasiado, têm de contar histórias, não há vida sem magia, já se sabe, e outros, intimistas, verdadeiros, com heróis cheios de mazelas emocionais e dores existenciais, por vezes excruciantes.
Inspiram-me sempre mais do que o mundo.
Os ecos de mim que não encontro lá fora, descubro, como sempre, nos livros.
Dizia a um amigo um dia destes, que tinha acabado de comprar a Biografia do Pessoa e começado a ler Os Diários de Sylvia Plath.
Se sobreviver…
O mundo pode “evoluir” o quanto quiser, a tecnologia controlar as nossas vidas a seu bel-prazer, mas é nos livros que encontramos precisamente esses ecos de nós. Gente que viveu e morreu, no caso de Sylvia Plath, da maneira mais trágica, o suicídio, noutro tempo, noutra era, e que padece exatamente das mesmas dores existências.
Que sente e fala como nós.
Se questiona, sem medos. Não nos resolve o problema, mas, ao menos, não nos isola. Ao contrário do que esperei, sinto conforto. A identificação é talvez o mais eficaz antídoto contra o isolamento, a solidão existencial, a falsa sensação de conexão que se obtém com o mundo externo.
Férias do mundo:
O mínimo estímulo externo possível, wifi desligado, nada de interrupções abruptas, como sons, notificações ou coisas a piscar.