George

12/08/2023

O meu primeiro disco foi um single, o Last Christmas. Lá pelos meus 12 anos, tinha uma paixoneta pelo George Michael, santa inocência… E só não tinha o LP dos Wham porque uma amiga do colégio mo emprestou.

Ouvi-o vezes sem fim…

Nunca fui grande fã do Carless Whispers, saltava diretamente para o início. Até hoje canto o Wake Me Up Before You GoGo com grande fervor. Adorava o Everything She Wants, bem como o (primeiro) Freedom. E o I’m Your Man é uma das poucas músicas que me deixa sempre, em qualquer circunstância, muito bem disposta.

Pois, as músicas dos Wham eram contagiantes. Pelo pelo ritmo e muito mais. Ao ponto de terem sobrevivido. Logo aí deveria dar para ver que George Michael iria longe. Como tão bem sentiu, no último concerto da banda.

Levei a mal que os Wham se separassem…

Não perdoando George pela traição. E, portanto, ignorando por completo o que fez a solo. Até porque os meus gostos musicais mudaram, claro, à medida que fui entrando na adolescência.

Naturalmente, não me passou ao lado o Faith, muito menos o I Want Your Sex, já para não falar no Freedom, absolutamente brilhante. E não lhes resistia. A arte fala sempre mais alto do que a amargura e o ressentimento. Chama-se conexão…

Mas não acompanhei a sua carreira.

No outro dia, pus-me a ver o documentário dos Wham e percebi que não houve traição alguma. Foi de comum acordo e o seu parceiro de banda, e grande amigo,  estava tranquilo com o fim dos Wham.

Um documentário delicioso, que já vi duas vezes.

George Michael cantou com os maiores e melhores artistas da música: Stevie Wonder, Elton John, Aretha Franklin, Tony Bennett, Paul McCartney, entre outros. E o Somebody to Love, no tributo ao Freddie Mercury, só poderia ter sido interpretado por ele.

Naquela voz que era um portento.

Chegou a ganhar prémios de soul music, ao ponto de o Stevie Wonder perguntar: o quê, ele não é negro?

Ontem, tropecei no seu último testemunho: Freedom.

E percebi que não só é um bom letrista, e um excelente performer, como é, para além de corajoso, o verdadeiro artista, um homem de caráter.

Que não se vendeu à indústria.

Conheci mais e melhor a sua história, as perdas impossíveis de aceitar. Entendo perfeitamente a sua angústia, de querer ser validado enquanto artista, mas não aguentar o excesso de atenção, por ser introvertido.

Há uma linha muito fina que separa a autenticidade de tudo o resto.

Neste documentário, é tão fácil constatar o quão a sua vulnerabilidade é verdadeira. O que mais me encantou nele. Não se tratando de um apelo à peninha, sequer de um excesso de exposição. Mas de honestidade. Genuína, por não saber nem poder ser outra coisa a não ser o que é, enorme.

Ao passo que neste, o objetivo é explorar a sua miséria, o tormento que vivia, a luta interna entre duas forças psíquicas que não vivem uma sem a outra. E que passou completamente ao lado, se não de todos, de muitos dos testemunhos.

Freedom é um trabalho brilhante, de realização, fotografia, conteúdo e testemunho.

George Michael deixou-nos demasiado cedo, mas, lá do céu, pode ter a certeza de que o que fica na memória é o que os que o conhecem dizem dele. A sua música, que é de todos nós. E o nosso eterno agradecimento.

Teve o reconhecimento que lhe é devido, em vida.

No entanto, não estou certa de que lhe tenha chegado.

E o Natal, de que tanto gostava, terá sempre um gostinho agridoce, desde que partiu.

Que descanse em paz.

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