Um dia destes estive a ver este documentário sobre o George Michael no qual se falou, entre outros assuntos, da condenação por ato sexual ilícito numa casa de banho pública, na sequência de um esquema montado e nojento para o apanhar.
À época, o Sun, esse lixo que se denomina jornal, fez uma chamada de capa sobre o caso, com este título.
Criativamente, um estouro. Nada a apontar, tudo a elogiar. Tenho até alguma inveja. Adoro trocas de palavras, melodia e poesia na escrita, qualquer que seja. Os textos exclusivamente técnicos, sem sal, frios, cheios de credibilidade validada por estudos, prendem-me apenas um milésimo de segundo.
Sou mais sentimento do que pensamento
O problema é a absoluta ausência de humanismo.
Ao longo do filme, vários foram os entrevistados que testemunharam sobre a vida de George Michael. Entre os quais uma jornalista loura, de quem não lembro o nome nem a publicação para onde trabalha, que não deu duas para a caixa, numa altivez verdadeiramente repugnante. Para além de se arrogar o direito de determinar o que uma pessoa pode e não pode esperar do comportamento de um jornalista. Justificando basicamente que se pode tudo porque aos 18 anos, quando estava no início de carreira, o cantor procurava a imprensa para se promover e divulgar o seu trabalho.
Jamais para falar da vida privada
Aproveitando-se de forma abjeta da inocência de alguém para justificar o ganha pão que se resume a chafurdar na vida íntima dos seus pares.
O limite do jornalismo deveria ser condizente com o princípio básico do humanismo. Dever de informar não é direito de chafurdar, de invadir, de profanar a intimidade.
A primazia do humano em detrimento da vaidade
Investigação criminal é para a polícia, julgamentos para os tribunais. Informar, ou contar uma história real, implica considerar todos os pontos de vista, todos os lados, todas as versões. E a cartada do público “ter o direito de saber” não cola. Primeiro porque não tem o direito de se meter na vida privada de ninguém, mesmo que esse alguém seja uma figura pública que nunca tenha manifestado vontade para tal, não se tenha exposto, não tenha corrido atrás das revistas para se promover à conta da exposição de intimidade. Depois porque os jornalistas do género se estão bem borrifando para o direito do público. Querem é salvar a pele. Vender a qualquer custo.
George Michael, que era um senhor, respondeu da melhor maneira possível, com um vídeo técnica e esteticamente brilhante, satirizando a situação do jeito mais eficaz, com criatividade.
Já quem promove este tipo de lixo, fica com a conotação que tal ato merece.
Há maneiras de informar sem denegrir. De vender sem expor alguém na sua mais absoluta vulnerabilidade. E isso, no fundo ou à superfície, toda a gente sabe. Pode até não ter argumentos racionais para explicar, mas no seu íntimo sabe que há algo de profundamente errado neste tipo de conduta. E no que implica. Na ação e na consequência.