A vida sombria ocorre quando escritoras, pintoras, bailarinas, mães, cientistas, místicas, estudantes ou artífices param de escrever, de pintar, de dançar, de cuidar dos filhos, de pesquisar, observar, aprender, praticar. Elas podem parar porque aquilo a que dedicaram tanto tempo não saiu como esperavam, não obteve o reconhecimento merecido ou por inúmeras outras razões. Quando quem cria pára pelo motivo que seja, a energia que chega naturalmente a ela é desviada para o mundo oculto, a partir do qual ela vem à tona quando e onde consegue. Como a mulher percebe que não pode se dedicar abertamente àquilo que deseja, ela começa a levar uma estranha vida dupla, simulando um comportamento à luz do dia, agindo de outro modo quando tem a oportunidade.
Quando a mulher começa a arrumar a sua vida para que caiba inteira num pequeno embrulho bem-feito, tudo o que consegue é forçar toda a sua energia vital para o lado da sombra.
como Janis Joplin, a mulher pode tentar se adequar até não conseguir agüentar mais; e então sua natureza criativa, corroída e revoltada por ter sido forçada a mergulhar nas sombras, entra em violenta erupção, rebelando-se contra os dogmas da “educação” com atitudes irresponsáveis que desdenham seu próprio talento e sua própria vida.
Pode-se dar o nome que se quiser, mas ter uma vida secreta porque a vida real não tem espaço suficiente para vicejar é prejudicial à vitalidade da mulher. Mulheres famintas e em cativeiro escondem todo o tipo de coisa: músicas e livros proibidos, amizades, sensações sexuais, sentimentos religiosos. Elas escondem pensamentos furtivos, sonhos de revolução. Elas roubam tempo dos seus parceiros e das suas famílias. Escondem dentro de casa um tesouro. Tiram furtivamente o tempo para escrever, para pensar, para a alma. Elas escondem um espírito no quarto de dormir; um poema antes do trabalho; um carinho ou um abraço quando ninguém está olhando. In: “As mulheres que correm com Lobos”