Cada vez mais me convenço de que o pior que aconteceu a Portugal, e a outros países da Europa, foi o afastamento do Cristianismo. Há algum tempo que queria escrever sobre isto e não há dia melhor do que o de hoje, dia de Todos os Santos, para fazê-lo.
Em Portugal, a tradição do dia 31 de outubro caracterizava-se pelo Pão por Deus. Em que miúdos de todas as aldeias do país iam de casa em casa a pedir Pão por Deus. O meu pai contava-me que Lá no “extremo norte” não existiam, que me lembre, quaisquer tradições infantis “meio folgazonas” relacionadas com o culto dos mortos. No entanto, quando cheguei a Coimbra, contactei pela 1ª vez com as tradições relativas aos “fieis defuntos” ou “santos”. Eram ranchos de miúdos entre os 7/8 e os 13 anos que ao cair da noite pediam à porta das casas cantando: “bolinhos bolinhós, para mim e para nós, e p’ra dar aos finados, que’stão enterrados, aos pés da bela cruz, para sempre Amén Jesus”. Depois, recebiam as dádivas habituais – frutas, às vezes doces e, mais raramente, algum tostãozinho.
Também a minha mãe me falou da tradição do Pão por Deus, a que chamavam Bolinhos. As crianças ian de casa em casa, dizendo: “Bolinhos, bolinhos, em louvor (ou à porta) dos santinhos”. E recebiam amêndoas, nozes, romãs, o que as pessoas tinham em casa.
Em Lisboa, não tive essa sorte.
No mesmo dia, atualmente, em Portugal, celebra-se o Halloween, uma festa pagã sem qualquer referência à cultura portuguesa, que importámos dos EUA. Apesar de ter começado na Irlanda, numa tradição celta, que celebrava a passagem de ano. O Samhain celebrava-se com grandes encontros e festas, por vezes fogueiras e sacrifícios humanos, pois acreditava-se que era o dia em que as portas para o outro mundo se abriam, permitindo o contacto com o mundo dos mortos.
O Cristianismo acabou com o paganismo.
O culto das trevas, o terror, o ressuscitar de demónios. Trazendo a luz da fé, consciência, propósito, sentido, união, esperança, valores.
Os pagãos celebram a morte, os cristãos celebram a vida. Os pagãos recordam as bruxas e os druidas, os cristãos celebram os Santos, os verdadeiros heróis. E quanto ao provérbio: “para baixo todos os santos ajudam”, pelo contrário, para baixo ajudam os demónios, as nossas fraquezas, os santos puxem para cima, para Deus.
Já ouvi várias vezes a pergunta: “é preciso ser cristão para ser boa pessoa”?
Não sei responder a essa pergunta. Sequer o que significa ser “boa pessoa”. Mas sei que o contacto diário com Deus contribui, como nenhum outro, para o equilíbrio psíquico. Pela via da Bíblia, das parábolas e respetivas interpretações. E os ensinamentos de Jesus Cristo.
Li há pouco tempo um livro que o demonstra com toda a clareza, humildade, vulnerabilidade e beleza.
Daqueles cujo conteúdo adoraria que permanecesse para sempre na minha memória recente. E que me apeteceu oferecer a umas quantas pessoas.
O Cristianismo tem sido alvo de uma campanha de propaganda para o denegrir. De que o Halloween é apenas um pequeno e, aparentemente, inocente exemplo. Substituindo a adoração a Deus, que faz parte da condição humana, pela adoração a outras entidades e ideologias, humanas, que estão longe de merecê-la. Esperando delas a salvação.
Não consta que tenha resultado.
Porque o que motiva os grandes propagandistas é o poder pelo poder. Donde jamais poderá vir a salvação. Deixando as pessoas à mercê de uma referência de verdade. Cada vez mais perdidas, cada vez mais narcisistas, egoístas e auto-centradas. Movidas pelo ego.
Esquecendo a alma.
Por outro lado, Cristo é amor, humildade, sacrifício. Que se opõe ao poder. Há uma coisa que os cristãos têm, que não só incompatível com o mundo em que vivemos como é causadora de uma inveja imensa e, por isso, um alvo a abater.
A fé.
Assim, o Cristianismo opõe-se ao niilismo, à ausência de sentido, de vazio, de solidão, de impotência. Os seus valores orientadores incompatíveis com o orgulho, o poder, o pedestal em que gostamos de achar que nos encontramos. A ausência de responsabilidade, de iniciativa.
“A diferença entre os deuses verdadeiros e os falsos é que os falsos se alimentam de ti, os verdadeiros alimentam-te”.
Portanto, a batalha que o Ocidente enfrenta é uma batalha espiritual e, pela parte que me toca, a fé – a luz que vence as trevas da ignorância, da superstição, da mentira e do medo, em que vivia imersa a sociedade pré-cristã – é a única resposta.