A obsessão vem de uma carência, de uma necessidade aparentemente satisfeita e do desaparecimento súbito do que quer que seja que, na nossa memória emocional, satisfazia essa necessidade. Ou que minimizava o vazio que a mesma nos causava, gerando ansiedade. Seja um objeto, como um telefone, que nos faz sentir conectados com o exterior e por isso acompanhados; uma substância, como o açúcar ou a nicotina; uma pessoa; ou algo que nos faça sentir inseridos num coletivo, como um clube de futebol.
A obsessão também vem de um desejo, que tem por base, sempre, uma necessidade emocional não satisfeita, uma vontade, algo que nos é vital, que precisamos de ver reconhecido, acolhido, validado. Ou de expressar. E que personalizamos, personificamos, em alguém, identificando-o em exclusivo como a única pessoa capaz de o satisfazer.
Nenhum homem é uma ilha, mas não podemos fazer depender a nossa estabilidade emocional de uma coisa ou de uma pessoa. Nelas a depositar. E esperar que nos salve, nos garanta, nos justifique a existência. É preciso saber que necessidade está por detrás dessa carência e que tipo de ansiedade provoca. Só assim conseguimos agir, e relacionarmo-nos, com base no desejo e na vontade. Em vez de serem a carência e a necessidade a ditar as regras, condicionando os nossos comportamentos, à nossa revelia, contra a nossa real vontade.
Com base na carência e na necessidade, fazemos do objeto, da substância, da pessoa, maiores do que são, mais poderosos do que nós. Deles nos tornando dependentes, neles depositando a nossa vida, a nossa existência, o nosso humor, a nossa atividade. Anulando-nos e às nossas vontades, talentos e capacidades. Associamos a nossa identidade àquele objeto, pessoa, coisa, clube, e, com o seu desaparecimento, sentimo-nos perdidos, abandonados, rejeitados, sozinhos. Não há maior gatilho para a obsessão do que a experiência de rejeição e abandono.
A aparente satisfação dessa necessidade vem de uma crença de que aquela coisa, substância ou pessoa nos vai salvar de nós mesmos. Porque foi suficientemente forte para nos permitir encarar qualquer coisa, concretizar um objetivo, chegar mais longe, furar uma barreira, satisfazer-nos de alguma forma, afetiva, emocional, intelectual, conseguir algo, conquistar um espaço. Mas quem o conseguiu fomos nós. É para nós que essa capacidade tem de reverter, é em nós que temos de a reconhecer e dela nos apropriarmos, integrando-a, de uma vez.
Nas relações interpessoais quando temos que lidar com alguém* com um comportamento de certa forma possessivo – ciumento/obsessivo – em relação a uma terceira pessoa, é um perigo!… compra-se uma guerra, infinita.
*(ainda que não directamente mas que se encontra no mesmo círculo/ambiente)
este texto é apenas sobre um certo grau, baixo, de obsessão. Não chega a ser neurótico ou psicótico. Há diferenças enormes. Quando por exemplo o obsessivo acha que tem direito sobre a vida e o tempo da outra pessoa…
Precisava ler isso hoje! E li… nem tudo é por acaso, né? Obrigada!
Sempre passo pelo seu blog. Os títulos sempre me chamam a atenção na Central do Textão, quando vejo, é você!
Beijos!
eu diria que nada é por acaso… :)
Bom saber isso, querida, volta sempre.
Bjo