Os três primeiros capítulos do meu primeiro livro foram escritos em 2006. Quatro anos depois, ao relê-los, gostei tanto do formato que achei que poderia fazer daqueles primeiros textos um livro. Escrevi o quarto capítulo e, ao fim de mais uns três ou quatro, começou a dar-me a pressa. E dei por mim a forçar. O que nunca é bom.
Há escritores mais metódicos do que outros. Com horas para começar e para acabar. Como se trabalhassem num escritório das nove às cinco. Eu sou mais intuitiva. O que não quer dizer necessariamente que seja caótica.
Sinto muitas vezes que o livro se escreve sozinho.
Os primeiros capítulos nascem espontaneamente, de uma vontade emocional de expressão e de uma necessidade psíquica de me dar continente. Ao fim de dois ou três textos com o mesmo bordão ou tema, crio o conceito a partir daí. Defino-o, e à ideia, que fica à deriva no meu cérebro, até que o texto começa a surgir. Compulsivamente. Como se soubesse que ou é assim ou morre. Não consigo prolongar as coisas indefinidamente. Cansa-me e dá-me nervoso. Por isso, só se esgota porque lhe ponho um fim, determino o número de capítulos, sou simbólica nisso, os números são-me importantes nesse particular, e a coisa torna-se quase obsessiva até lhe dar um término.
Os livros também não se forçam
Ontem, dei com uns quatro pergaminhos que não chegaram a figurar no livro. Fruto desse processo de auto-pressão, foram escritos a partir da persona, o que destoava do tom que queria dar-lhe. Dois eram apenas referências, um ao Você, do Tim Maia, outro apenas dizia que a psicanálise já havia afiançado que nós decidimos quando nos apaixonamos, fazendo referência a uma intenção minha de estudar documentário, com as devidas reticências. Os outros dois eram demasiado pessoais e íntimos. Um descrevia o potencial destinatário e o outro todas as minhas sombras, as que conhecia, pelo menos.
Se um dia chegar a Best Seller, ou antes mesmo de morrer, divulgo-os.