Os Românticos

05/04/2023

Os Românticos não estavam todos de acordo, mas certas ideias dominavam as suas obras. Pensavam genuinamente ser profetas.

Pessoas que podiam interpretar a realidade.

Davam ênfase ao poder curativo da imaginação, por acreditarem verdadeiramente que poderia permitir às pessoas transcender os seus problemas e circunstâncias.

Os talentos criativos iluminam e transformam o mundo numa versão mais coerente, para regenerar, espiritualmente, a Humanidade.

Na pintura como na literatura, poesia e prosa, os Românticos exploravam estados emocionais e psicológicos, bem como os seus diversos humores. Celebravam a imaginação, a originalidade, a inspiração, a liberdade e os direitos individuais. A criatividade e a subjetividade artística, pela via da experiência humana. Em vez da mentalidade coletiva. Viam a imaginação individual e a espontaneidade como meio de experienciar o divino em si mesmo, o transcendental.

Emoção, experiência e sentimento.

A unicidade e a imprevisibilidade de cada vida humana, vivendo as suas vidas baseados na experiência emocional. Eram rebeldes, a natureza reflete o coração e o espírito humanos, como meio de nos ligar à alma.

Libertos do fardo ditatorial da academia, davam primazia à consciência em vez da conformidade às normas sociais.

O Homem como parte da natureza, não dissociado da mesma, ao mesmo tempo que a reverenciava, mostrando o seu poder e imprevisibilidade, maravilhamento e temor, num apelo à renovação espiritual. Honrando emoções humanas universais, como o amor, a perda, o triunfo, o falhanço. Tanto assim era que pessoas comuns eram consideradas dignas de respeito e até celebração. O que importava era o mundo interno do autor ou narrador, a celebração da  natureza, da beleza.

E qual era o meio preferido? Isso mesmo, cartas.

Davam acesso, aos leitores, aos desejos e pensamentos dos personagens, com particular relevo às pequenas coisas que os faziam reagir de forma intempestiva. O foco excessivo no pensamento e experiências subjetivos abriram portas para a perceção crescente da espiritualidade e, por vezes, do sobrenatural.

O isolamento, acompanhado da fiel melancolia, desempenhou um papel chave na experiência dos personagens românticos e, muitas vezes, dos seus autores. A solidão e o afastamento do resto da humanidade dão ao personagem uma forma de expressar a sua unicidade, experiências e pensamentos.

Celebravam o isolamento, pois, apenas quando o indivíduo está sozinho e, idealmente rodeado pela natureza, pode ser verdadeiramente livre. O barulho e a confusão das cidades deixavam a alma a morrer à fome. Apenas na quietude e na solitude o ser humano poderia encontrar verdadeiro significado, valor e a sua voz.

Com frequência, viam, a natureza como professora, uma entidade viva, que respira. Um deus ou deusa, ou uma combinação de todos os anteriores. William Blake celebra a natureza como majestosa fonte de inspiração e espanto, em “Auguries of Innocence,” um dos meus poemas preferidos:

To see a world in a grain of sand,
And heaven in a wild flower,
Hold infinity in the palm of your hand,
And eternity in an hour.

Na poesia, Walt Whitman, e o seu verso livre, rompeu com a tradição poética, já que ele se baseava, primeiro, no ritmo e no tom de uma conversa normal, em vez de no uso da rima, da métrica e de outras regras poéticas tradicionais.

Esta era, aliás, uma característica dos Românticos, levar a arte, onde incluo, naturalmente, a literatura e a música, a todas as pessoas, em vez de apenas a uma elite.

Na vertente gótica da Literatura, havia elementos de medo, horror, morte e melancolia. Exploravam emoções muito fortes, como o suspense. Frankenstein, de Mary Shelly, é o exemplo mais conhecido. Mas Jane Austen também explorou esta vertente, ainda que de forma irónica, bem ao seu estilo, em Northanger Abbey.

Os Românticos, inspirados por um desejo de liberdade, denunciavam a exploração dos pobres. Enfatizam a importância do indivíduo, a convicção de que as pessoas deveriam seguir os seus ideais em vez de se subjugarem às convenções e regras.

Apesar disso, os românticos advogavam também um compromisso para com a Humanidade.

Renunciaram ao racionalismo e à ordem associados ao Iluminismo, que lhes precedeu. Focavam-se em emoções e sonhos, por oposição ao racionalismo.

Keats, por exemplo, pensava em termos de uma oposição entre a imaginação e o intelecto. Keats sugeriu que é impossível encontrar respostas para as questões eternas que todos temos em relação à existência humana. Ao invés, os nossos sentimentos e imaginação permitem-nos reconhecer a Beleza. E é a Beleza que nos ajuda nos momentos mais sombrios.

A vida envolve um delicado equilíbrio entre tempos de prazer e de dor.

Tinham elevado sentido de responsabilidade para com os seus compatriotas, sentiam que era seu dever usar a sua poesia para informar e inspirar outros e mudar a sociedade. Alguns escritores sentiam intuitivamente que foram ‘escolhidos’, para guiar outros pelo tempestuoso período de mudança.

Os Românticos queriam uma vida de coração, alma, e espírito. E não uma vida de mente. A quebra das tradições e a celebração do indivíduo.

A subjetividade sobre a razão, a rebeldia sobre as tradições.

Acreditavam que o poder da tradição, dos códigos morais, da lei estabelecida, esmagava com frequência a consciência individual, tornando a Humanidade em carneiros obedientes, vergando-lhes os corações, mentes, e vontades, ao poder dos costumes e à autoridade. Também refletiam sobre a fugacidade da vida humana e a maravilha da alma e espírito humanos; sobre questões profundas sobre a vida, a morte, e o cosmos.

O poder da natureza para acalmar e elevar o espírito humano.

O passado é a chave para o presente e o conhecimento, comprovado, vinha da intuição. Rejeitavam a industrialização, a religião organizada (ainda que completamente voltados para o divino, inclusive com o ressurgimento da mitologia clássica grega), o racionalismo, as convenções sociais.

Idealizavam a mulher, as crianças e a vida no campo.

Os poetas deste período davam grande relevância ao inconsciente, às ligações entre as forças subtis da natureza e da psique, aos sonhos e devaneios, ao sobrenatural e à forma como as crianças e os primitivos viam o mundo. Atribuíam um valor ainda maior aos primitivos, pois a sua clareza e intensidade ainda não haviam sido subjugados às restrições da civilizada “razão”. Ou à corrupção. Numa visão da humanidade que seria fiel ao destino individual e aos potenciais não realizados da Humanidade como um todo.

São muitos os autores referência deste movimento: Victor Hugo, Stendhal, Baudelaire, Keats, Blake, Sir Walter Scot, Whitman, Lord Byron, Goethe, Alen Poe, Rilke… No entanto, a grande surpresa são para as mulheres, que, pela primeira vez, se destacaram na literatura. Ainda que, no caso particular das Bronte, Anne, Charlotte e Emily, tivessem de recorrer a pseudónimos masculinos para poderem publicar. Mary Shelley, Mary Wollstonecraft, Elizabeth Barrett Browning, Emily Dickinson, Ann Radcliffe …

E, claro, a grande Jane Austen.

Mozart, Haydn, e Beethoven são os três compositores Românticos.

Textos relacionados: O Romantismo e Jane Austen.

NB: Estes textos foram escritos com base em artigos publicados na internet e traduzidos por mim.

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