É duro ver as pessoas como elas são. Além da projeção. O que vale para os dois lados. É tão ou mais duro vermo-nos como somos, além da ideia que temos de nós mesmos. Um ideal de ego. O que, como se sabe, não corresponde à verdade de quem somos na totalidade.
E o pior é o que fazer com isso.
Depois da projeção, a positiva e a negativa, há dois caminhos: ou se aceita o outro como é, sem tentar mudá-lo, ou se separa e estagna psiquicamente, condenado a cometer o mesmo erro. Pois nunca chega a aperceber-se de qual o seu papel no fim de uma relação entre duas pessoas.
Em que medida contribuiu para o desfecho.
Cada um com a sua responsabilidade, como é óbvio. Não há perseguidores sem vítimas. O papel de vítima (salvador, perseguidor) é tentador, mas impede-nos de andar para a frente.
Também ninguém disse que era um passeio no parque…
Apesar disso, continua a haver muitos casamentos de 20 e mais anos. Que têm a primeira hipótese como verdadeira. Lá arranjam maneira de viver e conviver. Em muitos casos, metendo outras pessoas ao barulho, na sua intimidade. Ou, pior ainda, apenas um procura outras pessoas. Voltando para casa com a estrutura à sua espera e a funcionar.
Jantar feito, filhos a dormir.
Outra coisa não muito saudável é nunca se falar aberta e honestamente sobre o que nos incomoda no outro. Para tentar perceber se é projeção e qual a explicação para a atitude. Cujo impacto acontece de acordo com a história pessoal.
O que processou e não processou.
Seja como for, e o que acontecer, o tempo que medeia a queda do mito e o voltar a estar – não como dantes, é impossível, quando sabemos, sabemos – mas a estar, ainda assim, é um tempo lento, o do coração. Leva uma vida até que as nossas emoções não nos toldem o olhar. E consigamos ver a pessoa como ela é, de verdade.
Porque age assim, o que treslemos, voltar a vê-la como um ser humano, e não um semi-Deus, o herói que vem salvar-nos, para que possamos relacionar-nos como adultos.
Já se isso é possível, se sempre se consegue, se alguma vez os dois coincidirão a ouvir, se há intimidade e abertura para isso, são outros 500.
O não dito é que é o pior, afinal…