Run

12/09/2020
Run não é, de facto, grande coisa.

Não me convencem os comboios, a miúda da Fleabag, o ele falar na Escócia assim que abre a boca, o cabelo ruivo, o sotaque. Nem o ela ser a bit chubby, o que me daria alguma esperança na humanidade.

E nem a Santa Apolónia chegaríamos, se acaso conseguíssemos sair do whatsapp, quanto mais da Gare do Oriente.

Aliás, nem de casa sairíamos. Porque o que acontece no fim da série é o que aconteceria na vida: Quem tem gente à espera nunca chega a sair, só finge que sai, só se ilude que tem essa coragem.

Para além de nunca sair completamente a perder.

E quem não tem só quer ter a certeza de que mesmo que não lhe tenham lido os livros, ouvido as palestras, conhecido a história, não seja esquecido, seja sempre uma incógnita, um: “e se”, uma vida não vivida e respetiva nostalgia.

A possibilidade, mesmo que só na cabeça. A fantasia…

Já que um tem de ficar nessa amargura, normalmente o mais sonhador, que o outro também sofra a consequência de uma responsabilidade que é dos dois. E, no caso, nem foi quem não tem nada a perder que começou a brincadeira.

Isso é o pior.

É fácil para quem tem para onde voltar, há uma sensação de segurança, de aconchego, de esperança, até. Ainda para mais se for para sempre. Sem brincar mais ao: quando voltaremos a ver-nos? Vamos manter-nos em contacto.

Para quem não tem para onde voltar, a não ser para si mesmo, é outra história. Não tem por onde fugir, escapes de filhos que lhe desviem as atenções da solidão, da desesperança, mesmo que nenhum crime tenha sido cometido. Dói-nos sempre não termos sido os escolhidos. Mesmo que tudo tenhamos feito para tal, inconscientemente, claro.

E mesmo que um escritor privilegie sempre a história, o livro, a criação.

Essa seria sempre a minha prioridade. O que não quer dizer que tudo o que se disse tenha sido mentira, uma artimanha, um ardil, um movimento calculado em busca de um pulitzer. No entanto, facilitaria a vida do outro, que não precisaria de assumir responsabilidades, apenas usar a fraqueza do adversário a seu favor, posando de vítima, de pessoa séria.

A minha voz de chamada não seria Run ou Come. Seria: Let’s…

E eu, sabendo de tudo, iria…

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