Saúde mental e redes sociais

30/03/2020

O Covid19 privou-nos de quase tudo do mundo externo que nos distrai no dia a dia. Futebol, compras, saídas à noite, jantares, almoços e copos com os amigos, atividade física em ginásios, viagens, alguns até, infelizmente, do trabalho, deixando-nos apenas a internet, com redes sociais, canais de notícias, cultura, entretenimento e tudo o resto.

Não há lugar onde mais e melhor observamos a sombra coletiva do que nas redes sociais.

Que substituíram as caixas de comentários dos sites de notícias, talvez por serem mais visíveis para toda a gente. Inclusive gente que nos conhece.

O excesso de informação, na grande maioria das vezes pouco factual e que instiga mais à divisão social e ideológica, ao ódio, à projeção da sombra, do que informa, ainda que pareça que nos dá uma sensação de controlo, saber o que se passa, revela-se mais prejudicial do que útil.

A sombra coletiva tem várias caras:

queixume, reclamação, vitimização, agressividade, ativa e passiva, discurso de ódio, policiar a vida alheia, cobrar de tudo e de todos o que nós deveríamos fazer individualmente, mas também uma certa infantilização psíquica, que consiste precisamente em não reconhecer, e por isso não lidar com, todas as emoções que o coletivo rejeita, apregoando posturas psíquicas fixas e idealizadas, que em nada ajudam à integração desses conteúdos sombrios.

Publicar conteúdos, nossos ou de outros, tem por objetivo último a dopamina da interação, do like, da vontade de sermos vistos e ouvidos, por nos dar uma sensação de existência. Por isso o fazemos.

Na esperança de sermos vistos e ouvidos.

No momento que atravessamos, sem outras coisas a que nos habituámos que nos dessem essa mesma sensação, voltamo-nos para as redes sociais em massa.

Constatamos rapidamente que nos faz sentir pior do que melhor, psiquicamente falando. Por nem sempre obtermos o resultado que esperamos e por nos distraírem de nós.

Silenciar, desligar notificações ou até mesmo apagar aplicações de redes sociais do telemóvel é uma solução possível. Sair delas também. Concentrando-nos no que nos dá verdadeira sensação de estarmos vivos.

No entanto, é pelas redes sociais que também comunicamos e nos ligamos.

Os introvertidos, em particular, que as usam para se manterem ligados ao mundo, com a distância social de que precisam para viver, dificilmente passam sem elas. Contudo, e em especial nesta fase do mundo, é imperativo escolher criteriosamente o que nos traz paz e tranquilidade, nos inspira ou, no limite, nos diverte, nas redes sociais.

Há uma série de artistas a fazer lives.

Para todos os gostos. Que se têm revelado particularmente úteis, no sentido em que nos entretêm nestes tempos tão difíceis, mas também por permitirem contactarmos com pessoas que, normalmente, estão fora do nosso alcance.

Gosto particularmente de ouvir o Matthew Mcconaughey e o Richard Rankin, por causa do tom de voz. Sou particularmente sensível a histeria, gente aos berros, falsa felicidade, performance sem sentido.

Mas também pelo que dizem.

O Matthew porque me inspira, o Roger, nome da personagem em Outlander, por não esconder que as celebridades são pessoas normais, como tu e eu.

O Sam Heughan, com a dancinha do Jamie, um dia destes, fez-me sorrir, coisa que ainda não tinha acontecido nesse dia. E as lives do Tom Misch, que ainda por cima é giro, animam-me o espírito e soltam-me o corpo.

Não perco o Ricardo Araújo Pereira ao domingo, na SIC.

Há outros humoristas nas redes sociais dispostos a divertir-nos também, depende muito do gosto de cada um. É escolher o que nos faz sentir bem. Em paz, de preferência.

E eliminar tudo o resto.

Reduzir ao máximo a presença, ativa e passiva, nas redes sociais é imperioso. Impondo-nos, por exemplo, um tempo limitado para tal.

Optemos por quem nos inspire, não quem nos perturbe.

Os chamados guilty-pleasures não passam de conteúdos sombrios que não vivemos, não conhecemos e por isso não integramos. Que nos irritam mais do que nos ajudam. Não é hora para lidar com eles desta forma.

Há outras, muito melhores e mais eficazes. Que deixo para outro dia.

You Might Also Like

error: Protected Content