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Woody Allen – Autobiografia

12/05/2021

Não consigo parar de ler a autobiografia de Woody Allen.

Um primor de jornalismo literário, ainda que escrita pelo próprio, na primeira pessoa.

Tinha tantas saudades de ler assim…

Não a comprei pela história do escândalo em que a ex-mulher o envolveu, até porque nunca engoli a que Mia Farrow contou.

Tal como não acreditei na da ex-mulher de Johnny Depp.

Mas porque fui irresistivelmente atraída pela capa, o nome, a curiosidade, vida de um dos maiores e mais reputados cineastas do mundo, goste-se ou não.

Numa busca por Woody aqui no site, relembro a quantidade de vezes que escrevi sobre os seus filmes.

Não hesitei um segundo em comprá-la. Ainda que não goste de ler biografias na primeira pessoa. Acho que o autor não tem distanciamento suficiente para ser, de alguma forma, isento.

O ponto cego da consciência é sempre melhor visto por um terceiro.

Honesto, que conheça o biografado, que entreviste quem sobre ele possa testemunhar. Comprometido com a verdade e a humanização o suficiente para fazer do biografado um ser humano. Longe do diabo e do deus e, ainda assim, encantador.

Capaz da vulnerabilidade sem a pieguice, do orgulho sem a vaidade, da verdade sem a prepotência, a arrogância, a falta de noção.

Pela sua posição sobre os prémios, o não se deixar seduzir isso nem abalar pela crítica. Também por ser analisado, achei que Woody teria autoconhecimento suficiente sobre si próprio para conseguir escrever uma autobiografia honesta, com graça, humanizada, como se quer do jornalismo literário.

Descubro que fez muito pouca análise.

O que torna a autobiografia ainda melhor.

Vejo-me encantada pelas histórias, o sentido de humor, os medos, que expõe com muita graça, a humildade, a forma como fala das mulheres, em particular de Diane Keaton, a mulher mais linda do mundo. E tudo o que envolve a vida da criação, do mundo fútil de Hollywood. Só quando fala nisso me lembrei que esta autobiografia poderia ser a sua oportunidade de deixar escrito o que aconteceu com ele, a mulher e os filhos, na sequência das acusações da ex-mulher. Engraçado que fala nisso, espera que não seja por isso que comprámos o livro.

Não foi, não nego que não seja uma parte importante, mas está longe de ser o motivo pelo qual o comprei. Muito menos a razão pela qual o estou a ler, compulsivamente, há dois dias.

No entanto, fiquei contente por saber, também, sobre esse capítulo da sua história.

Poucas coisas me interessam mais do que a verdade.

É lamentável que o mesmo não possa dizer-se da maioria. Que está mais interessada numa história que lhe alimente a fantasia e a neurose do que na libertação da alma, aprisionada em traumas, paranoias, medos, meias verdades construídas com base em falsas memórias, induções, crenças.

Este livro soa a despedida, o que é uma pena…

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