Setembro

03/09/2021

No hemisfério norte, setembro é um mês de começos. De coisas novas, anos escolares, profissionais, eventualmente, por causa da volta das férias de Verão.

Dentro das limitações que me são impostas pelos totalitaristas, tenho sentido falta da novidade, ainda que o consumar me desafie mais do que o consumir, sendo ao primeiro que quero dedicar o resto da minha vida.

Os primeiros 50 foram dedicados a consumir.

Não necessariamente bens materiais, embora, naturalmente, tenha acontecido. Algumas vezes em excesso.

Há muitos anos que, quando compro algo novo, doo algo que já não uso. Mas, depois de ver dois documentários sobre minimalismo, decidi ir mais longe e aderir ao desafio:

#LessIsNow

Assim, durante o mês de setembro, doarei ou deitarei fora o número de coisas correspondente ao dia. Sem adiar, todos os dias têm de sair coisas cá de casa.

Como comecei hoje, doei três coisas. Amanhã, serão 4. E por aí adiante até chegar às 30, no dia 30.

Pode ser qualquer coisa. Doada, vendida ou deitada fora.

Ontem estive a dar uma volta na minha roupa e notei os níveis de ansiedade aumentar em relação a algumas coisas que pensei em doar e não consegui.

A posse de bens materiais, e o respetivo consumo desenfreado, é certamente uma forma de compensar um vazio qualquer, uma questão de controlo e/ou poder, para esconder um qualquer complexo de inferioridade, para alimentar uma certa persona.

Correspondendo ao que queremos que pensem, vejam, de nós.

Os livros deixam-me segura. Apesar de os doar aos montes. Também são material de trabalho, no caso da minha biblioteca de psicologia, mitologia, arquétipos, e tal. Daí que está fora de questão, pelo menos num futuro próximo, desfazer-me deles. Sequer emprestá-los. Deixei de emprestar livros, as pessoas têm o péssimo hábito de não os devolver.

Sou apegada aos meus, confesso.

Daí que a libertação tenha de ser por outras vias. Apesar de ser mais duro desfazermo-nos de coisas de que gostamos muito, não convém esticar a corda das primeiras vezes. Manter os níveis de ansiedade controlados é fundamental, eu diria.

Esta posse neurótica de coisas tem também a ver com mentalidade de escassez.

A ameaça constante com que somos bombardeados, não só pelo nosso inconsciente pessoal, familiar, e coletivo nacional, mas também por todas as mensagens que nos são passadas, e que absorvemos inconscientemente, todos os dias, pela publicidade.

A crença de que seremos mais isto e mais aquilo, se adquirirmos este e aquele produto.

É absurdo e ridículo o mundo em que vivemos.

Ao ponto de se considerarem influenciadoras pessoas que apenas incitam ao consumo, sendo pagas para o fazer.

Outro desafio a que me proponho é a agradecer uma coisa por dia. Vai obrigar-me a repensá-lo, a não me concentrar apenas no mau, a olhar para o todo e a reconhecer-lhe o valor que tem e merece.

Não se trata da tolice e da infantilização do pensamento positivo, de não acolher as emoções desagradáveis, fingir que não nos afetam, nos tocam, nos matam por dentro um bocadinho.

Mas de reconhecer o equilíbrio de todas as coisas.

E de não exacerbar o peso ou o valor de cada uma delas. Não lhes dar mais importância do que a que têm.

Sê bem-vindo, Setembro.

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