Mais do que entretenimento, séries, filmes e literatura são formas de conexão com o inconsciente. De viver conteúdos arquetípicos, universais e transversais a toda a Humanidade. Que a consciência ainda não aceitou, não arranjou forma de os integrar, e, por isso, se revelam difíceis, muitas vezes impossíveis por condicionamentos sociais ou culturais, de serem vividos fora da nossa cabeça.
Toda a arte fala por símbolos
Por isso nos comovemos com uma música, um poema, nos viciamos em séries, temos um tipo preferencial de filmes, de histórias, de livros.
Uma imagem, uma frase, um objeto, um lugar, que nos faz parar no meio do caos…
Uma clareza nos salta dos olhos, inundados de comoção, o nosso coração acalma e a ansiedade desaparece.
A sensação é de paz absoluta. De integração e de conexão totais.
É preciso entender a imaginação não como forma exclusiva de escape, embora possa sê-lo, mas como uma faculdade de perceção. Uma lente pela qual a vida simbólica se torna visível.
Algo acontece simbolicamente, que nos dá sentido.
Mesmo que não consigamos racionalizá-lo, explicá-lo, trazê-lo para o mundo das palavras para que seja percecionado, entendido no exterior, na consciência.
Os símbolos contêm tudo em que acreditamos, o que entendemos, esperamos, desejamos, reprimimos e suprimimos. Trabalhar com símbolos irá permitir que comuniquemos com o nosso inconsciente e libertemos potencial por explorar.
Os símbolos oferecem a possibilidade de libertação das influências da repressão e do inconsciente. Pois contêm a nossa verdade, escondida nas partes mais profundas da nossa psique. Por isso, ajudam a entender e resolver situações de conflito.
Trabalhar com símbolos permitirá que nos religuemos à nossa alma.
Nós não temos vida simbólica, e precisamos desesperadamente de uma. Só a vida simbólica consegue expressar a necessidade diária da alma. Por não termos vida simbólica, jamais conseguiremos sair deste moinho, desta vida horrível, banal, da moagem, a que nos diz que não há nada além disto. Tudo é banal, é: só isto, e é por isso que as pessoas são neuróticas. Estão simplesmente fartas de tudo, dessa vida banal e por isso procuram sensação. Querem até guerra, todas querem guerra, ficam felizes quando há uma guerra. Dizem: “Graças aos céus agora vai acontecer alguma coisa, maior do que nós mesmos.” C.G. Jung, 1939.
Em: Modern Man in Search of a Soul, Jung diz:
a menor das coisas com sentido vale mais do que a maior das coisas sem ele.
Às imagens que nos falam, Jung deu o nome de numinosas. Imponentes e que indicam a presença do divino*.
Toda a forma de arte é uma expressão da nossa verdade
Quanto maior a paixão, a “obsessão”, mais profunda é a probabilidade de o conteúdo ser simbólico. Já a duração dessa obsessão dita o tempo que o conteúdo simbólico precisa para chegar à consciência. E nela ser integrado.
As viagens, para lugares pelos quais temos um fascínio inexplicável racionalmente, são disso um enorme e quase perfeito exemplo.
As paixões também
Considerando que o ego corre atrás da felicidade, da satisfação pessoal e imediata. O Self implora por sentido. Por responsabilidade individual e consciência coletiva.
Assim, o sentido é dado pelo símbolo. E o trabalho, de integração do conteúdo que representa, que fazemos com ele.
Se o século 20 foi o século do ego, façamos do século 21 o século do Self, da alma.
E nada melhor e mais mágico do que os símbolos para o pôr em prática.
Os símbolos, muitos deles, têm significados universais. No entanto, o que importa é o significado que têm para nós, individualmente. É esse “trabalho” que urge começar a fazer.
*Stephen Farah, tradução minha.