Sonhar é um ato revolucionário

10/11/2022

Quando cheguei aos 50 anos, achei que a minha vida tinha acabado. Já que não havia lugar para o sonho, a criatividade, a imaginação. A esperança. Apenas a resignação. Pois sonhar é para os novos, para quem tem a vida inteira pela frente. Até ter-me lembrado de que a minha mãe concretizou um sonho de 50 anos, aos 70 e tal.  Do outro lado do oceano, a comoção que me inundou os olhos trouxe-me de volta a esperança, a mim mesma.

Há quanto tempo não sonhamos?

Quando deixámos de sonhar? Em que momento decidimos que os nossos sonhos não passam de fantasias, são impossíveis, ou os transferimos para os nossos filhos, impedindo-os talvez de criar os próprios sonhos e decidirem por eles o (e com o) que sonhar? Frustrando-nos as expectativas, tornando-nos autómatos, produzindo para todos menos para nós mesmos?

Quando deixámos de sonhar e passámos a ridicularizar os sonhos? A ver os sonhadores como tolinhos? A castrar os sonhos uns dos outros, até dos nossos filhos? Vivendo os sonhos dos outros, por termos abandonado os nossos?

Ainda se lembra dos seus sonhos?

Com o que sonhava? O que queria e antevia para a sua vida? Além de mudar o mundo, naturalmente?

Deixar de sonhar é deixar de imaginar, de criar, de acreditar.

Tornando-nos sobreviventes, em vez de criadores. Acreditando e aceitando uma suposta realidade, que, na verdade, nos é imposta como única possível. Por governos, meios de comunicação de massa, propaganda em redes sociais. Gerando medo, ansiedade, falta de confiança em nós mesmos e no futuro. Deixando que o ambiente externo, o tempo, objetos, outras pessoas, nos controlem, tomem conta das nossas vidas e das nossas emoções. Abdicando do nosso próprio poder e autonomia, tornando-nos escravos das circunstâncias.

Aqui fica uma proposta: comece por um fim-de-semana.

Depois, durante uma semana, não leia, ouça ou veja notícias. Não consulte redes sociais, não veja TV. Mantenha o wifi desligado no seu telefone o máximo de tempo que puder. Se for urgente, pode ter a certeza de que lhe ligarão.

No entanto, e ao princípio, pode custar, o corpo em crise de abstinência de emoções de sobrevivência como: medo, raiva, culpa, frustração, perda de sensação ilusória de controlo. Há tanto tempo que não sentimos outra coisa – e quando sentimos, a culpa, o medo, a crença de escassez, faz que mantenhamos presos a emoções de estados de sobrevivência – que nos esquecemos do que é experimentar outras sensações e emoções como o amor, a gratidão, a completude, a liberdade, a conexão, a alegria, a abundância.

Vivê-las sem culpa, usufruindo da experiência.

Ao ponto de acharmos que somos só isso. E não um mar infinito de possibilidades e oportunidades. Desconectando-nos de nós mesmos, dos nossos corações, fontes de toda a sabedoria e criação.

À medida que vamos praticando, como em qualquer outra prática, vamos ficando melhor, menos ansiosos. Somos o tempo que investimos seja no que for. Portanto, quanto mais praticamos, mais nos tornamos.

Substitua o tempo infinito que perde em redes sociais, a ver notícias, séries e filmes que não lhe trazem nada, por livros, passeios ao ar livre, contacto com a natureza, museus, música, arte… Aproveite para tentar lembrar-se do que o deixava verdadeiramente feliz e em paz quando era criança. Volte a fazê-lo. Faça mais e mais.

E verá os seus níveis de ansiedade baixar como nunca.

E talvez volte a sorrir, a rir, a acreditar, a sonhar, a imaginar e a criar. Verá também que nada acontece, nada muda à sua volta, o mundo não acaba e a vida segue. Como sempre seguiu e há de seguir: a vida é, e sempre será, soberana. 

Sonhar é um ato revolucionário.

Não há limites no sonho, na imaginação. Não há escassez, medo, vergonha, frustração, culpa, temor, ansiedade. Só conexão, paz, totalidade, abundância, um tempo infinito e uma dimensão espacial imensa. Sonhar traz-nos de volta a nós, antes de a nossa cabeça ter sido resgatada e o nosso coração encolhido. E de nós, consciente ou inconscientemente, termos feito essa escolha.

Sempre fomos, somos e seremos seres completos.

E basta reencontrarmo-nos connosco, conectarmo-nos com a nossa sabedoria interna, para voltarmos a senti-lo. Longe da crítica, da auto-exigência de perfeição, não precisamos de ser perfeitos, basta sermos nós mesmos, de verdade. Relembrarmo-nos disso, bem antes de nos deixarmos convencer de que não somos suficientes, não merecemos, forçando-nos a corresponder a expectativas, aprovação, validação, externas, esquecendo-nos de nós mesmos. Em vez de cuidarmos de nós, verdadeiramente.

Nada muda até que nós mudemos.

E essa mudança passa por fazer novas escolhas, agradecer, em vez de culpar, vitimizar, criticar, julgar. Assumindo a responsabilidade pelas nossas escolhas, adotando novos eus, grandes, completos, unidimensionais, em vez de separados de nós mesmos.

Tal como o sonho e a criação, a imaginação não tem limites e quanto mais sonhamos, imaginamos, criamos, mais esse ciclo aumenta, mais vem, mais abundantes nos tornamos.

Bons sonhos :)

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