Nunca li Susan Sontag, não sei se alguma vez lerei. Vi algumas referências no antigo Brain Pickings, atual The Marginalian, cuja newsletter recebo há anos e me inspira sempre imenso. Fala muito a minha língua, e, acredito, a de todos os INFP.
Decidida a manter-me fiel à promessa, despachei duas Jane Austen em três dias e comecei a ler “O monte dos vendavais”. Não me puxou muito. Resolvi ver os filmes, baseados em livros das manas Bronte, que havia disponíveis: “O monte dos vendavais” e “Jane Eyre”. Só desgraças, nunca tive muita paciência para só desgraças e miséria, jamais consegui ler Dickens por me lembrar do Oliver Twist. E agora estou um bocado traumatizada com as Bronte.
Foi quando decidi pegar na biografia de Susan Sontag.
Escrita por Benjamin Moser, o mesmo autor da de Clarice Lispector. O que só abona a favor dele.
Que maravilha. Cada vez gosto mais de Biografias, desde que bem escritas e, naturalmente, na terceira pessoa.
Identifico-me com Sontag em muitas coisas. E com o jornalismo literário em quase tudo. Muito mais do que a ficção, a ilusão, a fantasia, o escape, interessa-me a verdade. E nada como uma boa biografia para me devolver o sentido da palavra humanismo.
A fantasia é boa, a ficção propicia a ilusão, alimenta-a.
E conexão também é verdade. Mas acaba por funcionar quase como anestesia. Afastando-nos da realidade. E, já se sabe, quando a anestesia passa, as dores voltam.
É relativamente fácil viver anestesiado.
O mundo está cheio de anestésicos, para todos os gostos e feitios. Legais e ilegais. Sejam drogas, álcool, comprimidos, livros, séries e filmes, noites de copos, compras, viagens, o que quer que seja que nos afaste de nós, das nossas dores e temores. Das nossas frustrações e inibições, como cantava o Variações.
“Art is not propaganda, it is an expression of the truth”
Tem, portanto, um propósito maior, o de nos conectar com a verdade, quando mais não seja, a nossa. Sobre nós mesmos. No entanto, mesmo os artistas, têm de manter, pelo menos, um dos pés no chão.
A realidade não é certamente o que passa nas notícias todos os dias. Sequer sei se existe verdade no que é veiculado pelos meios de comunicação social de massas. A grande maioria das “notícias” não passa de propaganda para alimentar a cultura do medo e distrair as massas das suas misérias individuais.
O que me encanta no jornalismo literário, nomeadamente nas boas biografias, é precisamente o equilíbrio que não vemos nas notícias. Muito menos nas redes sociais.
O jornalismo literário devolve ao mundo o humanismo que entretanto se perdeu. Sem endemoniar ou endeusar o biografado, mostra-o como é, com carências e virtudes, anseios e desejos, medos e triunfos.
O jornalismo literário não cancela ninguém.
Talvez por isso, não mais se faça… Tenha passado de moda, não venda, não seja comprado. Mais uma razão para nele me fiar. Se dele apenas restam as biografias e pouco mais, é nelas que continuarei a pegar.
Depois de Sontag, Diários de Sylvia Plath, que nunca li, mas de quem tenho uns e-books à espera e que também conheci via Brain Pickings.