Todos nós nos impressionámos com a capacidade inacreditável de concentração de Cristiano no jogo contra Espanha.
Aqui fica a explicação:
“Foi aí, logo no início do encontro e quando os espanhóis pareciam não ter ouvido ainda o apito inicial do árbitro, que se viu Cristiano Ronaldo entrar naquilo que, há umas décadas, os atletas americanos passaram a chamar “the zone” – um estado de fluidez mental, capaz de nos fazer abstrair de tudo em nosso redor e nos deixar concentrar apenas no nosso objetivo […] ,
Cristiano encontrou a sua “zona”
Ainda os jogadores espanhóis estavam a pedir a intervenção do VAR, já ele tinha levado a bola para o local da falta e, serenamente, de olhos na baliza aguardava pelo apito do árbitro.
Indiferente a tudo o que se passava em seu redor.
Ignorando até a presença do guarda-redes David De Gea que, numa manobra normal nestes casos, tentou desconcentrá-lo, parando à sua frente, enquanto se dirigia para a baliza. Sem êxito: Cristiano estava apenas concentrado no que tinha de fazer, ainda para mais com a cabeça fresca.
“A partir do momento em que entras nesse estado, tu percebes que estás lá.
E as coisas à tua volta começam a mover-se quase em câmara lenta e a tua concentração fica absolutamente focada no teu objetivo. De tal forma, que até consegues adivinhar o que o teu adversário quer fazer”. […]
Foi isso que se viu, pelo menos, com a forma como correu para a bola e chutou, com precisão, para o primeiro golo da noite, indiferente a tudo e todos.
Mais de oitenta minutos depois, Cristiano Ronaldo continuava na mesma “zona”,
a demonstrar essa capacidade extraordinária de cumprir algumas das características: completa concentração na tarefa assumida, objetivo claro, facilidade de execução, consciência e ação num único movimento, além de uma sensação plena de controlo sobre tudo o que está a acontecer na competição.
Vale a pena rever todos os momentos ocorridos entre os minutos 85 e 87. A forma como Cristiano Ronaldo recebe a bola, de costas para a baliza, à entrada da grande área, e depressa toma a decisão de a proteger… e esperar a falta do defesa. Era esse o seu objetivo naquele momento.
Um objetivo claramente enunciado na forma como, imediatamente, pegou na bola e… reentrou na “zona”, apenas com os olhos na baliza, a mente a focar-se em tudo o que precisava de executar, mal o árbitro fizesse soar o apito: os quatro passos até à bola, a posição perfeita do corpo para que o seu pé direito pudesse impelir a bola numa curva perfeita sobre a barreira.
Felizmente, ficou tudo gravado em vídeo.
São mais de 90 segundos nesse “estado”, com Cristiano parado, no local que delimitou em quatro passos à retaguarda, sempre a controlar a respiração, de forma lenta, e de olhos fixos no objetivo.
Nos últimos momentos desse período de concentração, percebe-se que ele está absolutamente abstraído de tudo o que se passa à sua volta – podiam desabar as bancadas, registar-se uma invasão de campo nas suas costas, que ele continuaria focado única e exclusivamente na sua tarefa. […]
Foi um enorme golo de pé direito, é verdade. Mas foi, acima de tudo, o golo de um enormíssimo atleta que, nos momentos certos, saber entrar “na zona”.
Graças à sua maior arma: a cabeça.”
*Alegadamente publicado na Visão, explica muita coisa…