A proteção de dados (GDPR) é uma piada…
Tive de comprar um telefone novo. São cada vez maiores, mal me cabe nas mãos. Quando fui à procura das definições de privacidade para bloquear o acesso ao microfone, em todas as aplicações de mensagens, não o encontrei.
Os telefones mais recentes, e este é de 2018…, dão cada vez menos hipótese de escolha, autonomia, auto-preservação.
Sim, de 2018. Recuso-me a pagar mais de um salário mínimo por um telefone. Aliás, o meu limite são 300€. E mesmo assim já é muito. Daí que, tal como o anterior, também este é em segunda mão. Está impecável.
Dizem-me que não é um telefone, mas um mini computador.
Não preciso de um mini computador. Já tenho um computador e um iPad, que me foi oferecido, e apenas uso para ler o que não tenho em suporte físico. Não uso apps a não ser o GPS e aplicações de mensagens. E se não tivesse uma série de amigos fora do país, voltava aos Nokia anti-choques e salpicos, os meus preferidos.
Lamentavelmente, já não tenho olhos para aqueles ecrãs minúsculos.
Não. Não uso apps. Para nada. Dizem que é coisa de velho. Seja. Mas, enquanto puder, o acesso aos meus dados é por mim negado. Para que saibam que não os doei de forma voluntária.
Muito menos redes sociais. Apaguei-as todas, exceto a profissional. Não servem para nada, apenas para nos entupir os feeds com publicidade que, ainda por cima, só polui.
Ademais, recuso todos os cookies. Todos. Dou-me ao trabalho de verificar tudo, antes de abrir qualquer site. Convido-vos a ver, são às dezenas… Recuso todas as partilhas de dados em todos os contratos que assino. Peço para eliminarem todos os meus dados das bases de dados de empresas às quais me candidato. Sempre.
Mesmo assim, farto-me de receber chamadas fraudulentas e abusivas de gente que obteve o meu contacto de forma ilegal e sem qualquer consequência. Ou via empresas que os vendem.
Já nem se dão ao trabalho de pôr um humano a fazê-lo. Fazem-no por bots…
No outro dia, numa dessas recusas, e com o rato em cima da mesma, a frase dizia, literalmente: não podemos vender os seus dados… Vender. É para isso que servem as apps e as redes sociais. Todas elas. E tudo quando é smart, incluíndo telefones. Para coletar dados e vendê-los. Se os vendem, é porque têm valor. E muito.
Se é de borla, tu és o produto.
Não é à toa que se tornou impossível tirar a bateria aos telefones novos. Agora, a única hipótese de proteção de privacidade é enfiá-los no congelador. Mais, como é possível não poder apagar apps do meu próprio telefone? Ter empresas a decidir o que fica e não fica em telefones privados, cujas contas são pagas por nós? A escolha é outra ilusão. Não há escolha, só imposição. As câmaras em tudo quando é semáforo e esquina, com a desculpa da segurança, servem apenas e só para controlo e recolha de dados biométricos.
As liberdades de expressão, de movimento, de escolha, de auto-determinação, de pensamento… nunca estiveram tão condicionadas. E o dia em que tudo isto será usado contra nós está mais próximo do que se imagina. Já estando entre nós.
Portanto, a única pessoa que protege, de facto, os nossos interesses somos nós.
Bem pode o Estado e os Governos, a UE e as empresas vir com a conversa da privacidade ser importante e que agimos em conformidade com o GDPR.
Não só é mentira, como são os primeiros a vendê-los.
Donde se conclui que nenhum organismo, público ou privado, nacional ou internacional, institucional ou comercial, tem os nossos interesses em consideração. Pelo contrário.
Até os dados médicos, que eram os mais sagrados, não só são usados e vendidos como passarão a ser propriedade dos Governos, que poderão com eles fazer o que bem entenderem. E a última coisa em que pensam é no “bem comum”.