O perdão é um ato de libertação
Henri Nouwen, um fenómeno espiritual que nos deixou cedo demais, discorre sobre o perdão num dos que já é um dos livros da minha vida: O Regresso do Filho Pródigo.
O nosso maior sofrimento é frequentemente causado pelas pessoas que nos amam e que amamos. As nossas feridas mais profundas ocorrem durante relações entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos e irmãs, mestres e aprendizes, família e amigos, padres e fieis. E, muitas vezes, mesmo já depois de terem partido, ainda precisamos de ajuda para perceber o que aconteceu.
“Tu fizeste de mim o que sou e eu odeio quem sou”.
A grande tentação é continuarmos a culpar os que nos eram mais próximos, pelo nosso presente. Por outro lado, o grande desafio é tomarmos consciência das nossas mágoas e reconhecermos que o nosso verdadeiro eu é muito mais do que o resultado do que “os outros fizeram connosco”.
E que temos de passar por cima de todos os nossos argumentos – das nossas necessidades, de apreço, de elogios (de reconhecimento existencial, acrescento eu) – que nos dizem: o perdão não é sensato, saudável, é impraticável. Por cima dessa parte do meu coração que ficou magoada, ofendida, e que quer permanecer no controlo, impondo algumas condições entre mim e a pessoa a quem me pedem que perdoe.
É natural que encontremos maior dificuldade em perdoar aqueles que nos feriram profunda ou repetidamente.
O medo de que a situação se repita é um mecanismo de autoproteção. Ao reter o perdão, acreditamos que estamos a proteger-nos de futuras mágoas. No entanto, ao não reconhecermos e curarmos essa ferida, estamos a deixar uma porta aberta para que a mágoa continue a afetar-nos. E a entregar o nosso poder ao transgressor, permitindo que a sua ação continue a ter um impacto negativo nas nossas vidas.
Quando somos magoados, uma parte de nós fica ferida.
Pode ser o nosso ego, a nossa confiança ou a nossa autoestima. Por isso, é importante reconhecer e validar as nossas emoções. Para tal, precisamos de entender que parte de nós foi afetada pela ofensa e porque nos sentimos traídos ou desiludidos. O não reconhecimento dessa parte? Será algo que precisamos que cresça? Qual é a nossa parte de responsabilidade que estamos a deixar nas mãos alheias? Já que, ao assumirmos a responsabilidade pelos nossos sentimentos, podemos começar a processar a dor e seguir em frente.
Pois a recusa em perdoar pode criar um ciclo vicioso de ressentimento e amargura.
O perdão é um ato complexo e desafiador, que envolve processos emocionais e cognitivos profundos. Ao perdoar, libertamo-nos do fardo da vingança e abrimos espaço para a cura e o crescimento.
Da mesma forma, a falta de perdão pode ter consequências devastadoras para o nosso coração.
O ressentimento e a mágoa são emoções tóxicas que nos corroem por dentro. Podem levar a problemas físicos e emocionais, como ansiedade, depressão e doenças cardiovasculares. Já a compaixão e o perdão são instrumentos de amor. Se não pelos outros, que o sejam por nós…
“Forgiveness is an act, not an emotion. Not an erasure of your memory”.
“I forgive you. Will never use it against you in the future. And will never speak of it again to you or to anyone else”.
Perdoar não é simplesmente esquecer, desculpar ou absolver a ofensa ou transgressão. Não estamos a condenar as ações do transgressor, mas sim a escolher libertar-nos das amarras do ressentimento. Em vez disso, é uma escolha consciente de abandonar a raiva e o desejo de retribuição. É um ato de cuidado pessoal que nos permite libertar das amarras do ressentimento e da mágoa, abrir espaço para a aceitação e o crescimento.
No fundo, o perdão é um presente que damos a nós próprios, permitindo-nos seguir em frente e viver uma vida mais plena.