O conflito na ficção

16/11/2020

Quando preparava a candidatura à bolsa, e ainda a propósito, houve quem me perguntasse com que tipo de conflito, externo ao personagem, tencionava prender o leitor.

Por agora já não ser como no século 18 ou 19…

As questões existenciais não são suficientes. Basicamente, é preciso matar alguém. E a história tem de girar à volta disso…

Dostoiévski não teria vez no século 21…  Que dizer de Hermann Hesse…

Conflito externo soa a infantilização do consumidor.

Ou a tentativa de comercializar a literatura.

Também deve ser por isso que, em quase todas as sinopses das séries da Netflix e HBO, a Apple TV há de ser igual, há referência a um assassinato.

A receita é morte, desgraça e miséria. Ou “não vende”. E assim se manipulam massas, usando “o mercado” como bode expiatório.

No entanto, se as pessoas se dedicassem mais ao autoconhecimento, descobrindo o que as move, não precisariam de entretenimento para lidar com conteúdos inconscientes. Para além de reclamarem muito menos nas redes sociais.

Mas de conteúdos de qualidade.

Salvo raríssimas exceções, como Normal People ou o Gambito da Dama, a alternativa ao crime, na grande maioria dos conteúdos, é paternalista, fantasiosa ou, simplesmente, idiotizante.

É a imbecilização generalizada em curso.

Com a crise económica, há milhões de seres humanos sem ter o que comer. Sequer uma previsão de quando poderão voltar a ter um mínimo de autonomia.

No entanto, com o mundo inteiro confinado e como seria de prever, as subscrições de plataformas como Netflix e HBO aumentaram.

Tal como o consumo de livros, nos países civilizados.

Plataformas essas com potencial para manipular massas à escala global. E, pela amostra de conteúdos, vão longe.

Contudo, toda a forma de arte tem um propósito. Além da expressão do seu criador. Propósito esse inconsciente. Assim, a criação usa conteúdos do inconsciente coletivo para resolução de conflitos que se verifiquem no momento coletivo vigente.

Não é o que vemos hoje

Séries e filmes estão a ser usados para manipular massas. Veiculando conteúdos que estão longe de representar o mundo em que vivemos. Estas plataformas são o canal direto para o mundo. E estão ao serviço de lóbis vários, todos com a mesma agenda, disseminando propaganda a gosto.

Impondo a ditadura do pensamento único, digna de governos totalitários. 

Em vez de equilibrar inconsciente e consciente, diminuindo polaridades psíquicas pessoais e coletivas.

Parabéns aos envolvidos.

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