Rare Objects

25/05/2023

Rare Objects, de Katie Holmes, traz-me de volta a esperança de que o cinema não seja apenas um veículo de propaganda, cada vez menos velada, pelo contrário, enfiada goela abaixo de todo o Ocidente. Agenda pushing descarada. Sendo Hollywood e as plataformas de streaming os seus principais veículos. Com reforço da mesma, pelos meios de comunicação de massas.

No fundo, que volte a ser arte, em vez de suposto entretenimento.

Conexão pura, de uma profundidade imensa. As personagens, não só as protagonistas, como também os homens, são verdadeiros, e não apenas estereótipos, frases memoráveis, direção de arte irrepreensível.

Um ritmo perfeito e uma banda-sonora à medida.

Conta a história de duas raparigas que se conhecem numa instituição psiquiátrica, no momento de saída da protagonista, e das suas vidas cá fora.

O que aguentam e não aguentam. E o que fazem para tal.

Confronta-nos com o que é, de facto, mentalmente saudável, o que é imposto como normalidade, o que é real e o que é forçado, falso, uma fuga.

E se é normal um escape, porque a realidade é demasiado dura para a vivermos sóbrios e sozinhos, fingir que não o é, fugindo da mesma, também não é solução. Pois, mais tarde ou mais cedo, atinge-nos em cheio e, se não nos cuidamos, desmoronamos.

No mesmo dia em que vi a entrevista a Johnny Depp, em Cannes, e o ouvi dizer que estará do lado oposto ao do circo, que se mantém fiel à verdade, que se distancia do mediatismo e do que os outros acham que são os seus direitos, enquanto cidadão livre, Rare Objects reforça a certeza de que só a verdade importa.

É preciso ter coragem, e humildade, para se ser verdadeiro.

E confiar que chegará o dia em que não precisaremos de ser permanentemente vigilantes, apenas soberanos.

Não é o primeiro filme de Katie Holmes, mas foi o primeiro que vi realizado por ela. De uma delicadeza ímpar, brilhante no papel de Diana, fiquei cheia de vontade de ver o que mais fez. Este é baseado num livro com o mesmo nome, que me suscitou imensa curiosidade.

It’s OK to be broken… Some people need to be seen, before they can hear.

Não há nada mais real do que isto. Tudo o resto é mera pose, sobrevivência, viver pela metade.

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  • Elaine 25/05/2023 at 22:15

    Vou procurar. Ando assistindo só velharia, de quando o cinema era cinema, não circo

    • Isa 26/05/2023 at 00:06

      Exatamente, é isso mesmo que estou a fazer. Não há paciência… Ontem revi o Begin Again, com a Keira Knightly, que adoro, e o Mark Ruffalo, que também adoro. Já vi várias vezes e gosto sempre imenso. Não sei se p rare objects é muito o teu estilo, mas eu adorei.

  • Kina 28/05/2023 at 22:28

    Procura, caso não conheças, Aftersun, de Charlotte Wells, e depois diz alguma coisa ;)

    • Isa 29/05/2023 at 19:44

      Já vi :) pesadão… Gosto mesmo é dos before sunrise, sunset e até mesmo midnight. Gostava que eles fizessem um para 50 year olds :D

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