Hesse e Jung

18/09/2023

O livro “O Registro de duas Amizades”, de Miguel Serrano, conta-nos como o autor se relacionou tanto com Carl Jung quanto com Hermann Hesse, no final da vida de ambos. O livro centra-se na troca de correspondência entre o autor e os dois pensadores, Hesse e Jung, referência mundial no que à busca pela plenitude e pelo sentido da vida diz respeito.

Carl Jung é o pai da Psicologia Analítica, ao passo que Hermann Hesse é autor de vários livros com o existencialismo como pano de fundo, de que “Siddartha”, “O Lobo das Estepes”, “Demian” e “Narciso e Goldmundo” são apenas alguns exemplos.

Pelas suas obras, conseguimos observar, mesmo sem nunca mencioná-lo, a permanente insatisfação, angústia e inquietação de Hesse, na constante tentativa de compreensão da vida e na eterna busca pelo sentido da mesma.

Que se traduz, de acordo com o pensamento de Carl Jung, no Processo de Individuação.

Hermann Hesse chegou a fazer terapia com Jung, que reivindica que teve influência direta em “Siddartha” e “O Lobo das Estepes”, escritos na sequência das sessões.

Chegaram a corresponder-se, tendo Jung escrito a Hesse, aquando da publicação de “Demian”, já que as semelhanças entre a jornada do personagem e o Processo de Individuação são por demais evidentes. Jung era leitor de livros anteriores de Hesse, mas foi em “Demian” que o reconheceu, no personagem.

Ambos tinham uma relação com a estética e a arte.

Hesse pintava e escrevia poesia, Jung via nesses símbolos a presença do inconsciente coletivo. Por outro lado, a Índia é também uma referência para ambos, que a visitaram pelo mesmo motivo: a espiritualidade.

Tendo também explorado a religião, nesse sentido, Jung pela via dos símbolos, Hesse pela via do Budismo.

Por outro lado, a importância do conceito de Sombra, tal como definido por Jung, é bem patente na vida e obra de ambos. Sendo “Narciso e Goldmundo” um belo contraste entre a consciência do ego e a persona, e a totalidade psíquica.

À qual Jung deu o nome de Self.

No livro “C. G. Jung e Hermann Hesse: Um registo de duas amizades”, Miguel Serrano refere que os personagens Narciso e Goldmundo e Siddartha, bem como Sinclair e Demian têm muito em comum, no caso dos primeiros. Quando não são a mesma pessoa, no caso de Demian e Sinclair, aludindo precisamente aos conceitos junguianos de sombra, ego, persona e Self.

Narciso e Goldmundo representam duas tendências essenciais num homem: a contemplação e a ação. Já Siddhartha e Govinda representam características opostas, devoção e rebelião.

Qualidades patentes em todos nós, individualmente.

Pensamos em nós, mas também somos caridosos para com os outros. Deparando-nos muitas vezes divididos entre a introversão e a extroversão, tipos psicológicos tais como definidos por Jung. Aludindo à polarização do ego, cuja ansiedade se resolve com a presença do Self e o contacto permanente entre ambos. Permitindo assim amena convivência entre os opostos, a cujo estádio Hesse chegou, nas suas obras.

O livro de Serrano é uma leitura essencial para quem se encontra dividido entre a razão e a emoção, o dever e a vontade. Cujos paradoxos encontram eco tanto na obra de Jung quanto na de Hesse. Dois dos pensadores e existencialistas mais influentes do século XX

E a referência mundial no que à busca pelo sentido da vida diz respeito.

Um pela via da Psicologia e o outro pela da Literatura, ainda que não se excluam mutuamente.

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